A diabetes é um problema de saúde global, com uma prevalência de 8,8% (425 milhões de adultos vivem com a doença em todo o mundo), sendo que tanto a incidência como a prevalência da doença estão a subir. Embora existam fatores de risco não modificáveis como a história familiar e a idade com um papel no desenvolvimento da doença, outros fatores como o estilo de vida, incluindo a dieta, têm um papel importante na mesma. Alterações de estilo de vida poderão diminuir o risco de diabetes e influenciar a progressão da doença .
Existe uma quantidade razoável de estudos que mostram que uma dieta ocidental, caracterizada por uma ingestão elevada de carne esteja associada a um risco superior de diabetes tipo 2 (DT2), mas pelo contrário dietas de base vegetal como a Mediterrânica ou a DASH, caracterizadas por uma ingestão elevada de produtos vegetais e pouca carne, estejam associadas a um risco inferior de DT2 . Para verificar se essas associações são consistentes, foi realizada uma meta-análise a 28 estudos prospetivos, na qual foram observados os seguintes resultados:
- Uma ingestão superior de carne total (33%), carne vermelha (22%) e carne processada (25%) esteve associada a um risco superior de DT2;
- Por cada 100g/dia de carne total e carne vermelha houve um risco 36% e 31% superior de DT2, respetivamente;
- Por cada 50g/dia de carne processada houve um risco 46% superior de DT2.
O estudo concluiu que existe uma relação dose-dependente entre a ingestão de carne total, carne vermelha e carne processada e o risco de diabetes tipo 2 .
Anteriormente, vários estudos têm mostrado que o consumo de carne, em especial carne vermelha poderá contribuir para o risco de diabetes. Essa associação poderá ser mediada em parte no caso das carnes vermelhas e totalmente no caso das aves pela ingestão de ferro heme presente nessas carnes . Outro estudo que incluiu no total 149143 homens e mulheres a partir de 3 estudos prospetivos, mostrou que por cada ½ porção por dia de carne vermelha adicional, houve um risco 48% superior de DT2 .
Por outro lado, vários estudos sugerem que uma dieta de base vegetal está associada a uma diminuição do risco de diabetes. A análise conjunta a 3 estudos prospetivos com 200727 participantes no total mostrou que aqueles com índices de dieta de base vegetal superiores tiveram um risco inferior de diabetes tipo 2: diminuição de 20% no caso de PDI (dietas de base vegetal) e 34% no caso de hPDI (dietas de base vegetal saudáveis) .
Dentro das dietas de base vegetal, a dieta vegana parece ser aquela que mais diminui o risco da doença. Um estudo prospetivo com 41387 participantes mostrou que uma dieta ovo-lacto-vegetariana esteve associada a uma diminuição de 38% no risco de diabetes tipo 2 e uma dieta vegana esteve associada a um risco 62% inferior da doença .
Uma meta-análise a 9 estudos prospetivos com um total de 307099 participantes mostrou também que dietas de base vegetal estiveram associadas a um risco 23% inferior de diabetes tipo 2. Além disso, nos estudos em que se diferenciou dietas de base vegetal saudáveis (ricas em vegetais, frutos, cereais integrais, leguminosas e frutos secos) de dietas de base vegetal pouco saudáveis (ricas em farinhas refinadas e açúcares adicionados), houve uma diminuição de 30% no risco de diabetes tipo 2. O estudo concluiu assim que dietas de base vegetal, especialmente aquelas que incluem alimentos saudáveis, poderão ser eficazes na prevenção de diabetes tipo2 .
Para procurar identificar os componentes da dieta mais fortemente associados com o risco de diabetes tipo 2, foi igualmente realizada uma revisão guarda chuva de revisões sistemáticas e meta-análises de estudos prospetivos que procurou avaliar a força da evidência dessas associações . Os alimentos mais associados a uma diminuição do risco de diabetes foram os cereais integrais e as fibras de cereais. Por outro lado aqueles que mais estiveram associados a um risco superior de diabetes foram a carne vemelha, processada, bacon e bebidas açucaradas. Por outro lado os padrões alimentares mais protetores foram por ordem decrescente a dieta vegetariana, dieta DASH e dieta Mediterrânica. Tanto uma dieta pouco saudável como uma dieta pobre em hidratos de carbono estiveram associados a um risco superior de diabetes .
Um estudo mais recente procurou identificar os perfis de metabolitos relacionados com diferentes dietas de base vegetal e as possíveis associações com o risco de diabetes tipo 2 . A identificação dos diferentes metabolitos (produtos finais resultantes dos processos celulares) presentes numa amostra biológica, conhecida como metabolómica, tem sido estudada como um meio de caracterizar o padrão alimentar de um indivíduo. Neste caso, foram analisadas amostras de sangue e os consumos alimentares de 10684 participantes de 3 estudos prospetivos. Os participantes preencheram questionários de frequência alimentar os quais foram classificados de acordo com a sua adesão a 3 dietas de base vegetal: Índice de Dieta de Base Vegetal (PDI), Índice de Dieta de Base Vegetal saudável (hPDI) e Índice de Dieta de Base Vegetal não-saudável (uPDI). Ao serem analisados os perfis de metabolitos juntamente com os índices foram observados os seguintes resultados:
- As dietas de base vegetal estiveram associadas a perfis de metabolitos específicos, sendo estes diferentes entre dietas de base vegetal saudáveis e não-saudáveis;
- Os perfis de metabolitos de dietas de base vegetal gerais e saudáveis estiveram associados a uma diminuição do risco de diabetes, de forma independente do peso (IMC) e outros fatores de risco;
- Os metabolitos trigonelina, hipurato, isoleucina e alguns triacilgliceróis estiveram associados ao risco de diabetes.
O estudo concluiu que os perfis de metabolitos relacionados com dietas de base vegetal, especialmente dietas de base vegetal saudáveis, estiveram associados a um risco inferior de diabetes tipo 2 numa população saudável, o que sugere que dietas de base vegetal saudáveis podem ser benéficas na prevenção da doença .
Os metabolitos associados às dietas de base vegetal poderão explicar em parte os seus efeitos protetores. A trigonelina, por exemplo, encontra-se no café e parece ter efeitos benéficos na resistência à insulina em estudos em animais. Níveis elevados de hipurato estão associados a um melhor controlo glicémico, maior secreção de insulina e risco inferior de diabetes tipo 2.
Dietas de base vegetal, rica em cereais integrais, vegetais, frutos, sementes e frutos secos, com pouco ou nenhum consumo de carnes vermelhas e processadas e pouca gordura saturada parecem ser a forma eficaz de prevenir diabetes tipo 2.
Referências:
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