A alimentação inadequada é um dos principais fatores de risco de mortalidade em todos o mundo. Em Portugal, os hábitos alimentares inadequados foram o quarto fator de risco que mais contribuiu para a mortalidade do país, a seguir ao tabaco, níveis elevados de açúcar no sangue e hipertensão, sendo que estes dois estão igualmente relacionados com hábitos alimentares (Vos et al., 2020). No que diz respeito aos fatores de risco alimentares específicos, os cinco principais fatores de risco que globalmente mais contribuem para o total de mortes por doenças crónicas, são, por ordem descendente: excesso de sal, insuficientes cereais integrais, insuficientes leguminosas e excesso de carne vermelhab(Murray et al., 2020).
Em Portugal, o elevado consumo de carne vermelha é o segundo fator de risco alimentar que mais contribui para o total de mortes por doenças crónicas, a seguir a um baixo consumo de cereais integrais e seguido de um baixo consumo de leguminosas. Por outro lado, se levarmos em consideração a perda de anos de vida saudável, o elevado consumo de carne vermelha representa o principal fator de risco alimentar que mais contribuiu para essa perda, seguido de baixo consumo de cereais integrais e elevada ingestão de sal (Murray et al., 2020).
A ingestão de produtos animais, em particular carne vermelha e processada, assim como uma insuficiente ingestão de produtos vegetais, como cereais integrais e leguminosas, contribuem para o risco dos problemas de saúde mais comuns em todo o mundo, como doenças cardiovasculares, diabetes, cancro e mortalidade, além terem um grande impacto para o planeta. Em particular, a carne vermelha não é apenas o produto que mais contribui para as emissões de GEEs e outros impactos ambientais associados à produção de alimentos, como também é um dos alimentos mais associado a riscos para a saúde humana, quando ingerido em excesso (Micha et al., 2010; Pan et al., 2011; Talaei et al., 2017; Farvid et al., n.d.; Hidayat et al., 2022; Neuenschwander et al., 2019; Pan et al., 2013; Guo et al., 2015; Papier et al., 2021; Al-Shaar et al., 2020; Knuppel et al., 2020; Chan et al., 2011; Papier et al., 2021; Saito et al., 2020; Bechthold et al., 2019; Schwingshackl et al., 2017; Schwingshackl et al., 2017).
Por outro lado, dietas de base vegetal estão associadas a um risco inferior de mortalidade total, por doença cardiovascular, cancro e doenças respiratórias (Oussalah et al., 2020; Shan et al., 2023; Remde et al., 2022; Selinger et al., 2023). Todos esses padrões alimentares têm em comum serem ricos em frutos e vegetais, cereais integrais, leguminosas e oleaginosas, além de pobres em carne processada, carne vermelha, grãos refinados e açúcares adicionados. Por outro lado, as dietas de base vegetal são fundamentais para diminuir o impacto sobre o planeta e combater a crise climática (Scarborough et al., 2023; Fresán & Sabaté, 2019; Aleksandrowicz et al., 2016; Willett et al., 2019).
A substituição de produtos animais por produtos vegetais de qualidade oferece por isso uma grande oportunidade de melhorar a saúde humana e planetária (Chen et al., 2020). Uma revisão sistemática e meta-análise a 24 estudos prospetivos avaliou os efeitos para a saúde da substituição de produtos animais por vegetais (Neuenschwander et al., 2023). Foram observados os seguintes efeitos:
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- Houve um risco inferior de doenças cardiovasculares quando se substituiu carnes processadas por oleaginosas (27%), leguminosas (23%) e cereais integrais (36%); assim como quando se substituiu ovos por oleaginosas (17%) e manteiga por azeite (4%);
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- Houve um risco inferior de diabetes tipo 2 quando se substituiu carne vermelha por cereais integrais (10%), carne branca por oleaginosas (13%), ovos por oleaginosas (18%) ou cereais integrais (21%);
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- Houve um risco inferior de mortalidade quando se substituiu carne vermelha por oleaginosas (7%) ou cereais integrais (4%), carne processada por oleaginosas (21%) ou leguminosas (9%), produtos lácteos por oleaginosas (6%) e ovos por oleaginosas (15%) ou leguminosas (10%)
Em suma, o estudo mostrou que substituir produtos animais (carne vermelha e processas, ovos, produtos lácteos, carnes brancas e manteiga) por produtos vegetais (oleaginosas, leguminosas, cereais integrais e azeite), está associado a uma diminuição de doenças crónicas e de mortalidade por todas as causas (Neuenschwander et al., 2023). Dietas de base vegetal equilibradas e bem planeadas são uma das medidas mais poderosas para melhorar a saúde humana e cuidar do planeta.
Referências:
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