O cancro colorretal é o cancro mais comum para ambos os sexos em Portugal. No entanto, uma parte significativa dessas casos de cancro poderia ser prevenida através de alterações de estilo de vida (Malcomson et al., 2023; Wang et al., 2021; Zhang et al., 2019).
Alguns dos principais fatores de risco de cancro colorretal são as carnes vermelhas, especialmente as carnes processadas. Em 2015 a IARC realizou uma análise a mais de 800 estudos epidemiológicos, tendo classificado as carnes vermelhas como “provavelmente cancerígenas para humanos” (Grupo 2A) e as carnes processadas como “cancerígenas para humanos” (Grupo 1) (Domingo & Nadal, 2017).
Uma revisão sistemática da WCRF-AICR Continuous Update Project aos estudos publicados sobre a relação entre alimentos e bebidas e o risco de cancro colorretal concluiu que existem evidências convincentes que as carnes processadas e as bebidas alcoólicas aumentam o risco de cancro colorretal. A evidência de que a carne vermelha aumenta o risco e que os cereais integrais, alimentos ricos em fibra e os produtos lácteos diminuem o risco foi considerada como provável.
As recomendações atuais para a prevenção de cancro colorretal da WCRF-AICR são de não se ultrapassarem as 3 porções de carne vermelha por semana (350-500g), ou seja, entre 50 a 70g por dia. Relativamente à carne processada recomenda-se que se consuma o mínimo possível o mais próximo de nenhuma quantidade.
Um estudo de 2024 procurou investigar os efeitos no risco de cancro colorretal de substituir pequenas quantidades de carne vermelha e processada por produtos vegetais como cereais integrais, vegetais, frutos ou leguminosas (Tammi et al., 2024). A razão para os autores terem escolhido uma quantidade dessas passa por estudar medidas que possam ser facilmente implementadas e mantidas em situações da vida real. O estudo incluiu 43788 participantes e mostrou que substituir 100 g/semana de carne vermelha por frutos, vegetais, cereais integrais ou vegetais esteve associado a uma redução de 3% no risco de cancro colorretal. No caso da carne processada, a substituição de 50g/semana esteve associada a uma redução de 1% no risco de cancro colorretal. No entanto, esses efeitos só foram observados naqueles que tinham uma ingestão baixa de cereais integrais. O estudo concluiu que mesmo a substituição de pequenas quantidades de carne vermelha ou processada por cereais integrais, vegetais ou frutos poderá diminuir o risco de cancro colorretal em populações com uma ingestão elevada de carne (Tammi et al., 2024).
Anteriormente, outros estudos mostraram benefícios quando se fazem alterações para dietas de base vegetal, na prevenção de cancro colorretal (Liao et al., 2019; Sieri et al., 2022; Watling et al., 2022b; Zhao et al., 2022). Um estudo com cerca de 490000 participantes dos EUA mostrou que substituir proteína de carne vermelha por proteína vegetal esteve associado a um risco 11% inferior de cancro colorretal (Liao et al., 2019). Outro estudo com cerca de 45000 participantes italianos mostrou igualmente que substituir proteína de carne vermelha e processada por proteína vegetal esteve associado a uma diminuição do risco de cancro colorretal (Sieri et al., 2022).
Um estudo prospetivo com 472377 participantes mostrou que dietas com pouca carne (<5 vezes por semana) estiveram associadas a um risco 2% inferior de cancro e a um risco 9% inferior de cancro colorretal (Watling et al., 2022a). Também uma meta-análise a 49 estudos prospetivos e de caso-controlo que incluiu 3059009 participantes, procurou avaliar a associação entre dietas de base vegetal e o risco de cancros digestivos (Zhao et al., 2022), tendo sido observados os seguintes resultados:
- Dietas de base vegetal estiveram associadas a um risco inferior de cancros digestivos. No caso dos estudos prospetivos houve um risco 18% inferior de cancros digestivos.
- Dietas de base vegetal estiveram associadas a um risco inferior de:
- Cancro do pâncreas (29%);
- Cancro colorretal (24%);
- Cancro retal (16%);
- Cancro do cólon (12%).
Dietas de base vegetal que incluam pouca ou nenhuma carne vermelha e processada parecem ser eficazes na prevenção de cancro colorretal, além de todos os outros benefícios para a saúde humana e planetária.
Referências: