Vários estudos têm mostrado que uma ingestão superior de produtos de origem animal, assim como de alimentos ultraprocessados, poderá estar associada a um risco superior de mortalidade. No entanto, uma dieta de base vegetal por si só não é suficiente para garantir benefícios para a saúde. Dietas de base vegetal ricas em produtos de má qualidade, como no caso dos ultraprocessados, estão também associadas a riscos para a saúde.
Um novo estudo prospetivo com uma população de 77437 participantes, muitos dos quais vegetarianos e a maior parte com um estilo de vida saudável, procurou examinar a associação entre tanto alimentos ultraprocessados como de origem animal e o risco de mortalidade (Orlich et al., 2022). Esses dois fatores foram ajustados entre si, o que significa que foi possível identificar associações independentes com o risco de mortalidade. Foram observados os seguintes resultados:
- Aqueles que obtiveram 50% das suas calorias diárias a partir de alimentos ultraprocessados tiveram um risco 14% superior de mortalidade, comparativamente com 12,5% das calorias diárias;
- Uma ingestão diária de 42,5 g de carne vermelha esteve associada a um risco 8% superior de mortalidade.
A ingestão de outros produtos animais não esteve associada ao risco de mortalidade. De uma maneira geral este estudo sugere que um dos fatores de risco mais importantes para a saúde relacionados com a alimentação é a ingestão de alimentos ultraprocessados, independentemente de ser uma dieta vegetariana ou omnívora. Por outro lado, dentro dos alimentos de origem animal, a carne vermelha parece igualmente contribuir para o risco de mortalidade. Com base nestes resultados, um dos autores do estudo sugere a medida mais eficaz para uma maior longevidade e menor risco de doenças crónicas: fazer uma dieta pobre em alimentos ultraprocessados e evitar a ingestão de carne vermelha (Orlich et al., 2022).
Os alimentos ultraprocessados (grupo 4) podem ser classificados como (Monteiro et al., 2018; Monteiro et al., 2016): produtos industriais geralmente com 5 ou mais ingredientes. Esses ingredientes frequentemente incluem aqueles usados nos alimentos processado como açúcar, óleos, gorduras, sal e conservantes. Os ingredientes utilizados apenas nos ultraprocessados incluem produtos não utilizados nas preparações culinárias e aditivos cuja função é imitar qualidades sensoriais dos alimentos do grupo 1. Alguns dos aditivos que se encontram apenas nestes produtos incluem corantes, estabilizadores, intensificadores de sabor, açúcares artificiais, estabilizadores, emulsionantes, entre outros. Os alimentos do grupo 1 são uma parcela pequena ou mesmo ausente dos alimentos do grupo 4. Exemplos: refrigerantes, gelado, chocolate, doces, pão embalado, margarinas, biscoitos, cereais de pequeno-almoço, alimentos pré-confecionados, hamburguers, entre outros.
Referências:
- Orlich MJ, Sabaté J, Mashchak A, Fresán U, Jaceldo-Siegl K, Miles F, et al. Ultra-processed food intake and animal-based food intake and mortality in the Adventist Health Study-2. The American Journal of Clinical Nutrition [Internet]. 2022 Jun 1 [cited 2022 Jul 24];115(6):1589–601. Available from: https://doi.org/10.1093/ajcn/nqac043
2. Monteiro CA, Cannon G, Moubarac JC, Levy RB, Louzada MLC, Jaime PC. The UN Decade of Nutrition, the NOVA food classification and the trouble with ultra-processing. Public Health Nutr. 2018 Jan;21(1):5–17.
3. Monteiro CA, Cannon G, Levy R, Moubarac JC, Jaime P, Martins AP, et al. NOVA. The star shines bright. World Nutrition [Internet]. 2016 Jan 7 [cited 2018 Feb 17];7(1–3):28–38. Available from: https://worldnutritionjournal.org/index.php/wn/article/view/5