A Perturbação de Hiperatividade com Défice de Atenção (PHDA) é definida como uma perturbação que afeta cerca de 7% das crianças em todo o mundo e que se caracteriza por alterações comportamentais, tais como agitação motora, impulsividade e/ou desatenção (Thomas et al., 2015). Embora o principal tratamento para esta perturbação nas crianças consista principalmente em fármacos psicoestimulantes, a completa normalização comportamental é rara e estes estão associados a problemas de apetite, sono, crescimento e problemas ósseos (Pelsser et al., 2017).

As causas da PHDA ainda não são inteiramente conhecidas, mas pensa-se que a sua etiologia seja multifatorial envolvendo uma interação entre predisposição genética e fatores ambientais tais como a dieta, poluição e contaminantes (Sciberras et al., 2017Pellow et al., 2011). Vários aspetos dos hábitos alimentares poderão estar associados ao risco de PHDA, incluindo a sensibilidade a aditivos alimentares artificias, desequilíbrios nos ácidos gordos e deficiências de minerais e vitaminas (Pellow et al., 2011). Relativamente aos padrões alimentares, uma dieta ocidental, assim como dietas ricas em açúcares adicionados e hidratos de carbono refinados parecem estar associados à PHDA (Howard et al., 2011Abbasi et al., 2019Ríos-Hernández et al., 2017Wang et al., 2019Chou et al., 2018). Por outro lado, dietas de maior qualidade como a dieta Mediterrânica estão associadas a um risco inferior de sintomas de PHDA (Ríos-Hernández et al., 2017).

Uma análise a um estudo clínico aleatorizado que incluiu 134 crianças com sintomas de PHDA (idades entre os 6 e os 12 anos) mostrou que aquelas que ingeriram mais frutos e vegetais tiveram menos sintomas de falta de atenção, tais como: incapacidade de manter o foco, não seguir as instruções, dificuldade em lembrar e dificuldade a regular as emoções. Por outro lado, uma ingestão superior de cereais refinados esteve associada a mais sintomas de falta de atenção (Robinette et al., 2022). O mesmo estudo (MADDY) avaliou os efeitos de suplementos com micronutrientes em crianças com PHDA tendo mostrado que aqueles que tomaram esses suplementos tiveram 3 vezes maiores probabilidades de mostrarem melhoria nos seus sintomas de PHDA do que o grupo do placebo (Johnstone et al., 2022).

Outro dos fatores da dieta que poderá contribuir para uma diminuição de risco de PHDA são os ácidos gordos ómega-3. Uma meta-análise a estudos clínicos aleatorizados, sugere que suplementos de ómega-3 (EPA e DHA) poderão melhorar os sintomas e a performance cognitiva em adolescentes e crianças diagnosticados com perturbação de hiperatividade com défice de atenção (PHDA) (Chang et al., 2017). Alguns resultados:

  • Em 7 estudos clínicos aleatorizados que incluiram 534 crianças e adolescentes com PHDA, suplementos de ómega-3 (EPA e DHA) melhoraram os seus sintomas clínicos;
  • Em 3 estudos clínicos aleatorizados que incluiram 214 crianças e adolescentes com PHDA, suplementos de ómega-3 (EPA e DHA) melhoraram marcadores cognitivos associados com a atenção;
  • Crianças e adolescentes com PHDA apresentaram níveis inferiores de DHA, EPA e ómegas-3 total.

A revisão conclui que suplementos de ómega-3 (EPA e DHA) poderão melhorar os sintomas clínicos e a performance cognitiva em crianças e adolescentes com PHDA e que estes apresentam deficiência nos níveis de ómega-3 (EPA e DHA), podendo por isso representar uma opção terapêutica no tratamento de PHDA (Chang et al., 2017).

Alguns cuidados adicionais a ter com a PHDA:

  • A evidência científica ainda não é inteiramente clara relativamente ao papel da alimentação no controlo do problema (Pelsser et al., 2017).
  • Os aditivos alimentares, nomeadamente corantes e o benzoato de sódio (E-211) parecem estar relacionados com um agravamento dos sintomas. Alguns estudos sugerem que eliminar estas substâncias da dieta poderá ter uma eficácia 50% semelhante à ritalina (Schab & Trinh, 2004Buka et al., 2011McCann et al., 2007Kanarek, 2011);
  • Reforçar os ácidos gordos essenciais, em particular os ómega-3 poderá ajudar. Isso consegue-se aumentando o consumo de alimentos como linhaça, chia e cânhamo (peixe pobre em mercúrio para quem come) e tomando suplemento de EPA + DHA (Manor et al., 2012Chang et al., 2017);
  • Alguns micronutrientes poderão ser úteis e deverão ser reforçados ou suplementados: zinco, magnésio, ferro e iodo (Huss et al., 2010Konikowska et al., 2012);
  • Fazer uma dieta pobre em açúcares adicionados e com um IG baixo poderá ser benéfico (Konikowska et al., 2012);
  • Alguns estudos sugerem que o equilíbrio da microbiota poderá ter efeitos na PHDA. Crianças que nasceram por cesariana e/ou tomaram muito antibióticos são mais propensas. Por outro lado, crianças que tomaram probióticos parecem estar mais protegidas. Nesse sentido deverá ser útil reforçar alimentos com fator pré e probiótico ou mesmo tomar probióticos ricos em Lactobacillus (Pärtty et al., 2015Konikowska et al., 2012).

Em suma, fazer uma dieta de qualidade, rica em produtos vegetais e ómega-3 e pobre em açúcares livres e cereais refinados poderá ajudar a melhorar os sintomas de PHDA e ao mesmo tempo diminuir o risco de outras doenças crónicas.

Referências:

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