Embora e esperança de vida esteja a aumentar em muitos países do mundo, nem sempre essa esperança de vida se traduz numa vida com saúde. Com o prolongamento da vida, surgem também complicações físicas e cognitivas, resultantes não só dos processos naturais relacionados com o envelhecimento, mas também do estilo de vida ocidental (Atance et al., 2024Beard et al., 2016).

A alimentação é um importante fator de risco modificável desse estilo de vida, com impacto para a saúde e longevidade, sendo que os hábitos alimentares inadequados são terceiro fator de risco que mais contribui para a mortalidade em todo o mundo, depois da hipertensão e do tabaco. Globalmente, cerca de 1 em cada 7 mortes por doenças não transmissíveis deve-se a uma alimentação desadequada (Vos et al., 2020Murray et al., 2020).

Em Portugal, os hábitos alimentares inadequados representam o quarto fator de risco que mais contribui para a mortalidade do país, a seguir ao tabaco, níveis elevados de açúcar no sangue e hipertensão, sendo que estes dois estão igualmente relacionados com hábitos alimentares. No que diz respeito aos fatores de risco alimentares específicos, em 2019, os cinco principais fatores de risco que globalmente mais contribuem para o total de mortes por doenças crónicas, são, por ordem descendente: excesso de sal, insuficientes cereais integrais, insuficientes leguminosas e excesso de carne vermelha (Murray et al., 2020).

Em relação à saúde dos mais idosos, a ingestão de proteína tem um papel importante na manutenção da saúde, especialmente na manutenção da função física, ao diminuir a perda de massa muscular, melhorar a mobilidade e reduzir o risco de perda de massa óssea e risco de fraturas, assim como manutenção da função cognitiva (Houston et al., 2008Hruby et al., 2020Naseeb & Volpe, 2017Tessier & Chevalier, 2018Coelho-Júnior et al., 2018Wallace & Frankenfeld, 2017Fung et al., 2017Coelho-Júnior et al., 2021Yeh et al., 2022). No entanto, embora a quantidade de proteína seja importante para a saúde dos mais velhos, a qualidade poderá igualmente ser importante na prevenção de doenças típicas destas idades. Em adultos, o excesso de proteína animal está associado a um risco superior de mortalidade devido a doenças crónicas (Song et al., 2016Chen et al., 2020Huang et al., 2020).

Uma meta-análise a 11 estudos prospetivos que acompanhou 350452 participantes mostrou que uma ingestão superior de proteína esteve associada a um risco superior de mortalidade, explicada maioritariamente pelos efeitos da proteína animal no risco de doença cardiovascular. Por outro lado, a ingestão de proteína vegetal esteve associada a um risco inferior de mortalidade total e por doença cardiovascular (Chen et al., 2020).

Outro estudo que acompanhou 416104 participantes durante 16 anos, mostrou que uma ingestão superior de proteína vegetal esteve associada a uma diminuição do risco de mortalidade total e por doença cardiovascular, sendo que a escolha de diferentes fontes de proteína pode influenciar a saúde e a longevidade (Huang et al., 2020).

Ainda outro estudo prospetivo de grandes dimensões que acompanhou 131342 participantes ao longo de 32 anos, concluiu que comer mais proteína vegetal esteve associado a um risco inferior de mortalidade (10%) e comer mais proteína animal esteve associado a um risco superior de mortalidade (8%), especialmente entre adultos com pelo menos um comportamento pouco saudável, como fumar, beber álcool ou ser sedentário (Song et al., 2016).

Mais recentemente, um estudo procurou avaliar quais os efeitos de diferentes fontes de proteína no envelhecimento saudável de mulheres mais velhas (Korat et al., 2024). Para isso foram acompanhadas 48762 participantes ao longo de mais de 30 anos e avaliado o efeitos da ingestão de proteína total, proteína animal, proteína láctea e proteína vegetal no envelhecimento saudável, definido como estando livre de 11 das principais doenças crónicas e sem défices cognitivos ou físicos. Os resultados mostraram que, tal como expectável, a ingestão de proteína total esteve associada a uma maior probabilidade de envelhecimento saudável. No entanto esses efeitos variaram em função do tipo de proteína. Por cada incremento de 3% de energia a partir de proteína as probabilidades de envelhecimento saudável foram: 5% para a proteína total, 7% para a proteína animal, 14% para a proteína láctea e 38% para a proteína vegetal. A proteína vegetal esteve também associada a uma maior probabilidade de ausência de limitações na função física e melhor saúde mental. O estudo mostrou também que substituir proteína animal e láctea, hidratos de carbono ou gordura por proteína vegetal esteve associado a uma probabilidade 22 a 58% maior de envelhecimento saudável (Korat et al., 2024).

Um estudo anterior com pessoas com mais de 60 anos chegou a conclusões semelhantes, tendo mostrado que aumentar a ingestão de proteína vegetal poderá promover um envelhecimento saudável, ao substituir os hidratos de carbono, gorduras ou proteína animal, especialmente carne ou produtos lácteos (Ortolá et al., 2020).

Também em relação à fragilidade em pessoas mais velhas, um fator de risco importante nessas idades de mortalidade, um estudo prospetivo com 85871 mulheres com mais de 60 anos, mostrou que uma maior ingestão de proteína vegetal esteve associada a um risco 14% inferior de fragilidade. Por outro lado, uma maior ingestão de proteína animal esteve associada a um risco superior, sendo que não houve relação entre a ingestão de proteína total ou proteína láctea e o risco de fragilidade. Além disso, substituir 5% de energia a partir de proteína animal, proteína láctea e proteína animal não-láctea, esteve associado a uma diminuição de 38%, 32% e 42% no risco de fragilidade, respetivamente (Struijk et al., 2022).

Outro estudo recente sugere também que embora uma ingestão superior de proteína animal ou vegetal esteja associada a uma diminuição do risco de malnutrição em idoso, a proteína vegetal poderá ser mais eficaz (Carballo-Casla et al., 2024). No estudo, foram acompanhados 2965 adultos com idades compreendidas entre 62 e 92 anos, ao longo de 2,6 anos. Os critérios da avaliação do estado nutricional incluíram a perda de peso, baixo IMC e pouca massa muscular. Por cada 0,25 g/kg/dia de proteína animal e vegetal houve uma probabilidade 15% e 77% de melhoria do estado nutricional, respetivamente. Esses resultados foram observados mesmo depois de controlados vários confundidores como atividade física, fumar, ingestão calórica, ingestão de frutos e vegetais e de bebidas açucaradas. Além disso, a substituição de proteína animal, carne ou peixe (mas não produtos lácteos ou ovos) por proteína vegetal esteve associada a melhorias do estado nutricional (54%, 70% e 77%, respetivamente) (Carballo-Casla et al., 2024).

Em suma, aumentar a quantidade da ingestão de proteína nos mais velhos é importante para um envelhecimento saudável, mas esses benefícios são mais evidentes se essa proteína for de origem vegetal. Em todas as idades, e em particular nos idosos, mais feijão e menos carne é medida certa!

Referências:

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