A ingestão de peixe é considerado um hábito saudável, sendo recomendado que se comam 2 porções por semana para a prevenção de doenças cardiovasculares . O peixe é uma fonte de ácidos gordos ómega-3 de cadeia longa (EPA e DHA), os quais são importantes para inúmeras funções no organismo além de serem possivelmente cardioprotetores . Além de EPA e DHA, o peixe é uma fonte de outros nutrientes importantes, tais como vitamina D, riboflavina, iodo, cálcio, fósforo, magnésio, potássio, zinco e ferro.
O conjunto de todos os tipos de estudos com peixe, tanto observacionais como experimentais, sugerem que a ingestão regular de peixe poderá diminuir o risco de enfarte do miocárdio e doença coronária. No entanto, existem alguns resultados inconsistentes em alguns estudos clínicos, o que poderão estar relacionados com a dose, tipo de peixe, métodos de preparação e também a presença de contaminantes como mercúrio e outros poluentes orgânicos .
No que diz respeito ao risco de cancro, quando se comparam diferentes padrões alimentares, tanto uma dieta pescetariana como vegetariana estão associadas a um risco inferior, comparativamente com uma dieta omnívora. No entanto, uma dieta vegana parece estar associada a um risco ainda inferior . Outro estudo prospetivo mais recente com 472377 participantes mostrou também que dietas com peixe e sem carne estiveram associadas a um risco 10% inferior de cancro e a um risco 20% inferior de cancro da próstata (homens). No entanto, dietas vegetarianas e veganas estiveram associada a um risco 14% inferior de cancro e a um risco 31% inferior de cancro da próstata (homens) .
Uma análise a 4 estudos prospetivos internacionais com 191558 participantes de 58 países diferentes mostrou que a ingestão de 2 porções (175 g) de peixe por semana esteve associada a um risco 16% inferior de doença cardiovascular e 18% inferior de mortalidade total. No entanto, esse benefício só se verificou naqueles que tinham doença cardiovascular ou eram pessoas de risco, não se tendo verificado na população em geral sem doença cardiovascular. Além disso, acima de 4 porções por semana não se observaram nenhuns benefícios, sendo que estes eram mais benefícios no caso de peixe gordo, rico em ómega-3 .
Embora existam eventuais benefícios na prevenção de alguns cancros e doenças cardiovasculares, um estudo recente sugere que a ingestão de peixe poderá não ser isento de riscos relativamente ao cancro da pele (melanoma). O estudo prospetivo acompanhou 491367 participantes ao longo de uma média de 15,5 anos e mostrou que a ingestão de uma média de 42,8 g por dia de peixe esteve associada a um risco 22% superior de melanoma. Estes resultados foram observados mesmo depois de serem ajustados vários confundidores sociodemográficos, de estilo de vida e de radiação média de ultravioletas. No entanto, não foram levados em consideração fatores de risco como sinais de pele ou histórico de queimaduras solares, o que poderá confundir os resultados . Os autores do estudo sugerem que contaminantes presentes do peixe, como mercúrio (associado a um risco superior de cancro da pele), poderá explicar esta associação, uma vez que uma ingestão superior de peixe está associada a uma concentração superior desses contaminantes do organismo. No entanto, serão necessários novos estudos para confirmar estes resultados.
O facto é que embora o peixe tenha vantagens para a saúde relativamente à carne, quando se comparam os efeitos entre o consumo de proteína animal (carne vermelha, aves, peixe, ovos e laticínios) e proteína vegetal (leguminosas, frutos secos e cereais), esta parece estar associada a benefícios na prevenção de doenças crónicas e mortalidade. Um estudo prospetivo de grandes dimensões mostrou que consumir mais proteína vegetal está associado a uma diminuição de 10% no risco de mortalidade de todas as causas e 12% no risco de mortalidade por doença cardiovascular .
O peixe pode fazer parte de um padrão alimentar de qualidade e saudável, mas quanto mais proteína vegetal incluirmos nas nossas refeições, melhor parece ser para a saúde e para o planeta.
Referências:
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