Os cancros digestivos, dos quais fazem parte cancros do fígado, estômago, esófago e cancro colorretal, são uma importante causa de morte globalmente, sendo que o cancro colorretal é o cancro mais comum em Portugal para ambos os sexos. No entanto, quase metade de todos os casos de cancro colorretal poderiam ser prevenidos se aderíssemos a 5 recomendações de estilo de vida:
- Manter um peso saudável;
- Fazer exercício físico;
- Ingerir alimentos ricos em fibra;
- Limitar a ingestão de carnes vermelhas e evitar carnes processadas;
- Evitar ingerir bebidas alcoólicas.
Alguns dos principais fatores de risco de cancro colorretal são as carnes vermelhas, especialmente as carnes processadas. Em 2015 a IARC realizou uma análise a mais de 800 estudos epidemiológicos, tendo classificado as carnes vermelhas como “provavelmente cancerígenas para humanos” (Grupo 2A) e as carnes processadas como “cancerígenas para humanos” (Grupo 1) .
Uma revisão sistemática da WCRF-AICR Continuous Update Project aos estudos publicados sobre a relação entre alimentos e bebidas e o risco de cancro colorretal concluiu que existem evidências convincentes que as carnes processadas e as bebidas alcoólicas aumentam o risco de cancro colorretal. A evidência de que a carne vermelha aumenta o risco e que os cereais integrais, alimentos ricos em fibra e os produtos lácteos diminuem o risco foi considerada como provável.
As recomendações atuais para a prevenção de cancro colorretal da WCRF-AICR são de não se ultrapassarem as 3 porções de carne vermelha por semana (350-500g), ou seja, entre 50 a 70g por dia. Relativamente à carne processada recomenda-se que se consuma o mínimo possível o mais próximo de nenhuma quantidade.
Por outro lado, dietas de base vegetal poderão ser protetoras relativamente ao risco de cancro colorretal e outros cancros digestivos. Um estudo prospetivo com 472377 participantes mostrou que dietas com pouca carne (<5 vezes por semana) estiveram associadas a um risco 2% inferior de cancro e a um risco 9% inferior de cancro colorretal . Uma revisão guarda-chuva, que incluiu 20 meta-análises a estudos observacionais e interventivos, com 34 desfechos de saúde, mostrou que dietas vegetarianas estiveram associadas a um risco inferior de doenças crónicas como diabetes, doença cardiovascular e cancro .
Mais recentemente, uma meta-análise a 49 estudos prospetivos e de caso-controlo que incluiu 3059009 participantes, procurou avaliar a associação entre dietas de base vegetal e o risco de cancros digestivos . Foram observados os seguintes resultados:
- Dietas de base vegetal estiveram associadas a um risco inferior de cancros digestivos. No caso dos estudos prospetivos houve um risco 18% inferior de cancros digestivos.
- Dietas de base vegetal estiveram associadas a um risco inferior de:
- Cancro do pâncreas (29%);
- Cancro colorretal (24%);
- Cancro retal (16%);
- Cancro do cólon (12%).
As dietas de base vegetal analisadas foram definidas como dietas que excluem produtos animais ou com uma ingestão superior de frutos, vegetais, leguminosas e oleaginosas. Não se observaram diferenças entre as diferentes dietas de base vegetal. Os autores sugerem vários componentes presentes dos alimentos vegetais poderão explicar os seus efeitos quimiopreventivos, tais como fibra, carotenoides, polifenóis, fitoquímicos, antioxidantes, entre outros. Além disso, os efeitos destes componentes poderão também afetar positivamente a microbiota, nomeadamente fibra, polifenóis e gorduras insaturadas.
Referências:
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