A ingestão excessiva de açucares livres está associada ao risco de várias doenças crónicas (Yang et al., 2014Debras et al., 2020). De facto, de acordo com a mais recente revisão da EFSA, a ingestão de açúcar adicionado deve ser o mais baixo possível. A Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) publicou a Opinião Científica sobre o nível máximo de ingestão tolerável para os açúcares tendo concluído que que não é possível definir um nível máximo de ingestão tolerável de açúcares adicionados/livres ou um nível de ingestão considerado seguro. Assim, com base nos dados disponíveis e nas incertezas identificadas, a ingestão de açúcares adicionados/livres deve ser a mais baixa possível.

O relatório alerta para a existência de evidência sobre uma relação positiva e causal entre a ingestão de açúcares adicionados/livres e o risco de doenças metabólicas crónicas e refere também que não é possível definir um nível de ingestão de açúcar em que não se verifica um aumento do risco de cárie dentária/ doenças metabólicas crónicas.

Como alternativa aos açúcares adicionados, existem adoçantes artificiais, os quais têm um teor adoçante muito elevado, mas sem contribuir com calorias. Alguns desses adoçantes são o aspartame (200 vezes mais doce do que a sacarose), acessulfame-K (200 vezes mais doce do que a sacarose) e a sucralose (600 vezes mais doce do que a sacarose). Embora estes adoçantes estejam aprovados para consumo humano por falta de evidências que mostrem risco para a saúde, estudos mais recentes com resultados conflituantes têm alertado para a preocupação com a segurança destes produtos. Nesse sentido, algumas autoridades de saúde, incluindo a EFSA, estão a reavaliar os riscos associados aos adoçantes artificiais (Authority (EFSA), 2020). Alguns estudos epidemiológicos, mas não todos, sugerem que os adoçantes artificiais possam estar associados a um risco superior de obesidade, hipertensão, síndrome metabólica, diabetes tipo 2 e eventos cardiovasculares (Azad et al., 2017).

Uma revisão sistemática incluiu 37 estudos, dos quais 7 são estudos clínicos randomizados (RCT), que acompanharam mais de 400000 participantes ao longo de 10 anos em média, não mostrou nenhum benefício dos adoçantes para perder peso. No entanto, no caso dos estudos prospetivos de maior duração, o consumo de adoçantes esteve associado a um risco superior de obesidade, hipertensão, diabetes, doença cardiovascular e síndrome metabólica (Azad et al., 2017). A revisão concluiu que a evidência a partir de RCTs não suporta de forma clara os supostos benefícios de adoçantes na gestão do peso e estudos prospetivos sugerem que estes podem estar associados a um aumento do IMC e do risco cardiometabólico.

Relativamente ao risco de cancro, existem poucos estudos que permitam uma conclusão definitiva, no entanto, alguns estudos preliminares in vitro e in vivo sugerem que o aspartame e outros adoçantes artificiais possam aumentar o risco (Soffritti et al., 2014Landrigan & Straif, 2021Bandyopadhyay et al., 2008Lim et al., 2006M. et al., 2016). Para tentar esclarecer melhor essa possível associação, foi realizado um estudo prospetivo (NutriNet-Santé) que acompanhou 102865 participantes ao longo de uma média de 7,8 anos (Debras et al., 2022). Ao fim desse tempo, forma observados os seguintes resultados:

  • Uma ingestão superior de adoçantes artificiais esteve associada a um risco 13% superior de cancro total. Especificamente o aspartame esteve associado a um risco 15% superior e o acessulfame-K a um risco 13% superior.
  • Uma ingestão superior de aspartame esteve associada a um risco 22% superior de cancro da mama e a um risco 15% superior de cancros relacionados com a obesidade.

O estudo concluiu que a ingestão de adoçantes artificiais (especialmente aspartame e acessulfame-K, utilizados em vários alimentos e bebidas em todo o mundo, poderão estar associados a um risco superior de cancro (Debras et al., 2022). Os autores do estudo referem que “estes resultados não suportam o uso de adoçantes artificiais com alternativas seguras para o açúcar”, sugerindo também, que à luz destes dados, a segurança destes produtos deve ser reavaliada pelas autoridades de saúde.

Uma das explicações para os efeitos dos adoçantes no risco de peso e de diabetes poderá ser atribuído ao efeito que têm na microbiota. Um estudo em modelo animal mostrou que aqueles que foram alimentados com adoçantes, ao fim de 11 meses apresentaram intolerância à glicose (Suez et al., 2014). Quando os animais foram tratados com antibióticos, a intolerância desapareceu, voltando após ser feito um transplante fecal a partir dos animais alimentados com adoçantes artificiais. O estudo conclui que adoçantes artificiais poderão aumentar o risco de diabetes.

Outro estudo mostrou também que animais alimentados com aspartame apresentaram níveis superiores de açúcar no sangue e de marcadores inflamatórios (Gul et al., 2016). Neste caso, os autores sugerem que quando o aspartame é digerido produz uma substância chamada fenilalanina, a qual interfere com uma enzima chamada fosfatase alcalina intestinal. Esta enzima ajuda a evitar obesidade, diabetes e síndrome metabólica. O estudo conclui que bebidas light, adoçadas com aspartame, poderão contribuir para o aumento de peso e síndrome metabólica, e que por isso substitutos do açúcar como o aspartame podem não oferecer nenhuma vantagem e até ser mais prejudiciais.

Outro estudo que incluiu 4372 participantes, mostrou que aqueles que beberam pelo menos um refrigerante com adoçantes artificiais por dia tinham um risco quase três vezes superior de desenvolver demência e AVC (Pase et al., 2017). Adoçantes artificiais não parecem por isso ser a melhor forma de evitar os riscos associados a um consumo excessivo de açúcar e bebidas açucaradas.

Embora ainda não existam resultados definitivos sobre os riscos dos adoçantes artificiais, com base nestes estudos poderá ser recomendável evitar a sua ingestão, especialmente o aspartame e o acessulfame-K.

Referências:

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