São bem conhecidos os efeitos para a saúde do excesso de proteína animal. Em vários estudos uma ingestão superior de proteína animal, especialmente carne vermelha e processada, está associada a um risco superior de mortalidade e doenças crónicas. Por outro lado, substituir proteína animal por vegetal poderá diminuir esse risco .
A relação entre a carne vermelha e o risco de doenças crónicas (além dos efeitos negativos para o planeta) é bastante robusta. Inúmeros estudos sugerem que o consumo de carne vermelha e processada aumenta o risco de várias doenças crónicas e mortalidade. Entre outros problemas, o consumo de carne vermelha está associado a um risco superior de doenças cardiovasculares, diabetes e alguns tipos de cancro . Além disso, está também associado a um risco superior de mortalidade total, por doença cardiovascular e por cancro .
Essa associação é especialmente evidente no caso do cancro colorretal, tendo a carne processada sido classificada em 2015 como cancerígena para humanos pela IARC e a carne vermelha como provavelmente cancerígena .
De acordo com um novo estudo, a relação entre uma alimentação rica em carne e o risco de cancro poderá não estar limitada aos humanos. O estudo analisou os registos post-mortem de 110148 animais de 191 espécies de mamíferos que morreram em jardins zoológicos para determinar o risco de morrerem de cancro. De acordo com os resultados, os animais carnívoros tiveram um risco muito superior de morrerem de cancro do que mamíferos que raramente ou nunca comem outros animais. Em particular, os artiodátilos, uma ordem de mamíferos maioritariamente herbívoros, caracterizados por terem um número par de dedos nas patas e que inclui animais como antílopes, vacas, cabras, entre outros, foram aqueles que tiveram menor risco de morrer de cancro. Por outro lado, os kowari (uma espécie de marsupial), foram aqueles que tiveram maior risco .
Estes resultados contrariam a hipótese de que animais de maior porte com maiores tempos de vida têm maior risco de cancro, uma vez que têm um maior número de células que podem sofrer mutação e mais tempo para essas mutações ocorrerem. Pelo contrário, nos animais analisados, a dieta parece ser o principal fator de risco de cancro, embora seja necessário realizar mais estudos para verificar se a mesma relação se observa em animais no seu estado selvagem.
Algumas das razões pelas quais os animais carnívoros são mais suscetíveis ao cancro podem passar por:
- A carne crua pode conter vírus com o potencial de causar cancro quando ingeridos;
- Os carnívoros têm maior exposição a agentes tóxicos que se acumulam mais nos animais no topo da cadeia alimentar;
- Os carnívoros têm dietas ricas em gordura e pobres em fibra, o que contribui para uma microbiota com menor diversidade comparativamente com os herbívoros.
Perceber as razões pelas quais os artiodátilos têm menor risco de cancro poderá contribuir para melhor conhecer os mecanismos nos humanos, sendo que as suas dietas ricas em fibra e pobres em gordura poderão ser um fator importante de proteção. Ser herbívoro, ou fazer uma dieta de base vegetal parece ser a melhor opção para reduzir o risco de cancro!
Referências:
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