Nova imunoterapia eficaz no tratamento de cancro cerebral em modelo animal
Claramente vivemos um período de ouro das imunoterapias. Quase todos os dias nos chegam notícias de novos avanços neste campo de investigação aproximando-nos cada vez mais de um tempo onde os tratamentos para o cancro possam ser personalizados, eficazes e sem tantas consequências para a qualidade de vida das pessoas doentes. Este clima de “Renascimento” das terapias baseadas no próprio sistema imunitário do doente enquanto instrumento de combate ao cancro, tem-se reforçado desde que a 1ª vacina de células dendríticas foi aprovada para tratamento de cancro da próstata e o prémio Nobel da Medicina de 2011 foi atribuído postumamente a Ralph Steinman pela descoberta das células dendríticas em 1973. Existem hoje mais de uma centena de estudos clínicos em curso, com o objetivo de estudar a eficácia destes tratamentos.
As notícias chegam-nos de uma equipa de investigadores da Duke Medicine. Esta equipa criou uma proteína artificial que estimula o sistema imunitário a combater o cancro. A proteína mostrou-se eficaz a tratar cancros do cérebro modelo animal. Os investigadores produziram em laboratório uma proteína com dois braços: um que se liga às células de cancro e outro que se liga aos linfócitos T, estimulando um ataque ao tumor. Em 6 de 8 ratos, o tratamento resultou em curas, de acordo com as descobertas publicadas na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
De acordo com John Sampson, neurocirurgião e um dos autores do estudo, “este trabalho representa o renascer de um conceito antigo no qual tendo como alvo o cancro com antigénios específicos do tumor poderá ser a forma mais eficaz de se tratar esta doença sem toxicidade”, e acrescenta: “O nosso agente terapêutico é entusiasmante porque funciona como um velcro, ligando os linfócitos T às células de cancro induzindo-os a destruir estas últimas sem efeitos negativos nos tecidos saudáveis circundantes”.
Sampson e os seus colegas focaram a sua investigação no tratamento por imunoterapia dos cancros cerebrais, por serem particularmente difíceis de se tratar. Mesmo com os tratamentos convencionais de cirurgia, radiação e quimioterapia, os glioblastomas são fatais, com um média de vida de 15 meses. Em vários tipos de cancro, as imunoterapias têm-se revelado promissoras mas apresentam ainda vários desafios a serem ultrapassados no seu uso clínico. Os tratamentos são difíceis de administrar em doses terapêuticas e e alguns casos podem estimular um ataque do sistema imunitário aos tecidos saudáveis. O que estes investigadores conseguiram foi conceber uma proteína (BiTE) que funciona como uma espécie de conector, ligando os linfócitos T aos seus alvos (através de um antigénio que se se encontra nos cancros, o EGFRvIII) aumentando assim a sua precisão.
“Uma das vantagens desta terapia é o facto de poder ser dada de forma intravenosa, atravessando assim a barreira sangue-cérebro”, diz Bryan Choi, outro dos autores do estudo. “Quando aplicámos a terapia sistematicamente a ratos, alcançou os tumores, tratando até tumores invasivos no sistema nervoso central”, acrescentou. Estas descobertas vão agora ser replicadas um estudos clínicos em humanos para se perceber a sua eficácia e eventualmente poder vir a ser utilizada no tratamento deste e de outros cancros.
Referências:
https://intl.pnas.org/content/early/2012/12/11/1219817110.abstract
https://www.eurekalert.org/pub_releases/2012-12/dumc-dmn121412.php
https://www.dukehealth.org/health_library/health_articles/cancer-vaccines-the-quest-continues
https://www.nobelprize.org/nobel_prizes/medicine/laureates/2011/