A vitamina D está na ordem do dia, e os seus efeitos poderão abranger inúmeras funções orgânicas, podendo ser importante na prevenção de várias doenças diferentes. Atualmente reconhece-se que existe uma deficiência generalizada de vitamina D na população mundial, em particular nos países mais desenvolvidos. Embora a deficiência desta vitamina esteja associada a problemas ósseos e fraturas, a sua relação com o risco de vários tipos de cancros é cada vez mais sugestiva. A incidência de deficiência de vitamina D, combinada com a descoberta de risco elevado de vários cancros, sugere que níveis baixos desta vitamina podem contribuir para várias mortes prematuras resultantes de cancro do cólon, mama, ovário e próstata, entre outros.
Como sabemos a melhor fonte de vitamina D é o sol. A radiação em contacto com o colesterol presente na pele produz a vitamina, a qual na realidade se trata de uma hormona esteróide. Sendo a melhor fonte de vitamina D o sol, tudo o que diminua a transmissão de radiação UVB para a superfície da Terra ou que interfira com a penetração dessa radiação na pele afeta a síntese de vitamina D3. A melanina, sendo muito eficaz a absorver radiação, quanto mais presente na pele menos eficaz também será a produção da vitamina. Por outro lado, um protetor solar com um fator de proteção 15 absorve 99% da radiação UVB, reduzindo assim em 99% a produção de vitamina D pela pele. Vinte minutos ou menos (consoante o tipo de pele, a latitude e a altura do ano) deverão ser suficientes para assegurar os níveis suficientes de vitamina D de forma a assegurar um fator protetor.
Os mecanismos pelos quais a vitamina D pode interferir com o risco de cancro poderão ser vários: regulação de cerca de 200 genes responsáveis pelo controlo do crescimento e diferenciação celular; diminuição de risco da transformação de células saudáveis em malignas; inibição da proliferação das células de cancro; indução da apoptose; inibição da angiogénese; ação anti-inflamatória; além disso os seus benefícios poderão incluir o aumento da eficácia na reparação do ADN, proteção antioxidante e imunomodelação.
De acordo com investigadores da Medical University of South Carolina, tomar suplementos de vitamina D poderá diminuir ou mesmo reverter o desenvolvimento de tumores da próstata de baixo risco, sem haver necessidade de cirurgia ou radiação. Um tumor da próstata é considerado agressivo se tiver uma classificação acima de 7 na escala de Gleason, o que representa um risco elevado de se espalhar pelo organismo. No caso de ter uma classificação inferior, muitos oncologistas optam por não tratar a doença, optando antes por uma vigilância ativa, uma vez que nestes casos os efeitos colaterais dos tratamentos podem ser piores do que a própria doença.
Um estudo anterior desta equipa avaliou os efeitos de suplementos de vitamina D (4000 UI) em homens com cancro da próstata de baixo risco. Ao fim de um ano, 55% desses homens mostrou uma diminuição na escala de Gleason ou mesmo o desaparecimento dos seus tumores quando comparado com as suas biópsias um anos antes.
Mais recentemente, os investigadores avaliaram os efeitos de suplementos de vitamina D em doentes que esperavam uma prostatectomia, a qual só pode ser realizada 60 dias após uma biópsia, devido à inflamação da mesma. Neste estudo clínico foram comparados dois grupos: o primeiro recebeu 4000 UI de vitamina D diariamente e o segundo um placebo. As próstatas foram removidas e examinadas 60 dias depois.
Resultados preliminares do estudo indicam que muitos daqueles que receberam vitamina D mostraram melhorias nos seus tumores, ao contrário dos tumores do grupo de placebo os quais permaneceram iguais ou pioraram. Além disso, a vitamina D causou mudanças drásticas nos níveis de muitos lípidos e proteínas celulares, especialmente aqueles envolvidos com a inflamação. Uma dessas proteínas, conhecida como fator de diferenciação de crescimento 15 (GDF15), foi fortemente induzida pela vitamina D, a qual está associada a uma diminuição da inflamação e encontra-se muito reduzida em cancros agressivos da próstata.
Como conclusão, o estudo sugere que suplementos de vitamina D poderão contribuir para uma melhoria de cancros da próstata de baixo risco, reduzindo a inflamação, o que poderá diminuir a necessidade de uma eventual cirurgia ou radioterapia.
Outras das formas de interferir com o desenvolvimento do cancro da próstata de baixo risco passa por se fazerem alterações no estilo de vida e alimentação. Em anos recentes têm-se acumulado evidências que sugerem que a dieta poderá ser uma forma importante de homens com cancro da próstata tomarem um papel ativo na evolução da sua doença e na saúde em geral. Estudos que avaliaram alterações na dieta mostraram benefícios: dos cinco estudos que foram realizados para avaliar o efeito de uma dieta à base de vegetais, quatro mostram ser eficazes no controlo do cancro da próstata (1, 2, 3, 4, 5, 6).
Há mais de 35 anos que Dean Ornish, membro do Intituto de Pesquisa em Medicina Preventiva, em parceria com a Universidade da Califórnia tem vindo a investigar a relação entre as alterações na dieta e estilo de vida e a saúde. Um desses estudos consistiu em acompanhar 93 doentes de cancro da próstata que participaram voluntariamente num estudo no qual se avaliaram os efeitos de uma alteração da dieta e de estilo de vida no controlo da doença. O estudo conclui que pacientes com cancro da próstata de estágio inicial optando por uma vigilância ativa, poderão ser capazes que evitar ou adiar tratamento convencional por pelo menos 2 anos fazendo alterações significativas na sua dieta e estilo de vida.
Atualmente está a decorrer um novo estudo (MEAL), no qual os participantes tentarão consumir 9 porções diárias de frutos e vegetais diariamente, assim como 2 porções de cereais integrais e uma porção de leguminosas. Este estudo clínico inclui homens com idades compreendidas entre os 50 e os 80 anos que tenham um tumor de dimensões reduzidas, numa fase inicial e que tenham optado por ter a sua condição seguida de forma vigilante em vez de se submeterem a um tratamento de imediato. Durante dois anos, os investigadores irão recolher sangue de forma a verificarem os níveis de antioxidantes e nutrientes assim como os níveis de PSA e biópsias, de forma a avaliarem se os cancros estão a progredir. A fase preliminar deste estudo mostrou resultados favoráveis. Para saber mais como prevenir o cancro da próstata, pode fazê-lo aqui.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1470481/?tool=pubmed
https://www.ajcn.org/content/87/4/1080S.full#ref-77
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