Estilo de vida. Esta expressão deverá tornar-se o centro da medicina moderna. É ao nível do estilo de vida que têm lugar tanto as causas como as soluções para os principais problemas de saúde da nossa sociedade. O cancro não escapa à regra. Cerca de 90 a 95% de todos os cancros têm origem em causas ambientais, restando apenas 5 a 10% de cancros causados por fatores genéticos herdados. Nesse sentido, o verdadeiro investimento em termos de saúde pública e individualmente que deverá ser feito como prioridade máxima é a prevenção. Enquanto não interiorizarmos isto enquanto sociedade continuaremos a assistir a uma degradação das nossas saúdes, com consequências para o nosso bem-estar e também para a economia. Um dos sinais evidentes desta degradação mostra-se nos níveis alarmantes de obesidade em todas as faixas etárias nas sociedades modernas. De facto, poderemos estar a assistir ao emergir de uma nova geração que pela primeira vez em 200 anos poderá ter uma esperança de vida inferior aos seus pais.
A obesidade é um fator de risco de vários cancros. Sabemos atualmente que pelo menos 20% de cancros na mulher e 14% no homem estão relacionados com a obesidade. Não só o excesso de peso aumenta o risco de se ter cancro da mama, como aumenta a probabilidade de recidiva e morte de cancro de mama após o diagnóstico. Um estudo avaliou 7000 mulheres com cancro da mama a fazerem tratamento convencional. As mulheres obesas, com cancro da mama com recetor de estrogénio positivo, apresentavam 50% mais probabilidades de morte precoce quando comparadas com as mulheres com índices de massa corporal inferiores. Os autores sugerem que a explicação para isso passe pelo facto do excesso de gordura corporal estar associado a níveis superiores de insulina e inflamação, ambos associados ao cancro da mama com recetor de estrogénio postivo.
Um estudo recente vem confirmar aquilo que já se sabia: o estilo de vida pode ser determinante para reduzir o risco de cancro da mama após a menopausa ou para aumentar as probabilidades de sobrevivência depois de um diagnóstico. As mulheres que sejam obesas durante e após a menopausa têm maior risco de desenvolver cancro da mama e os seus cancros tendem a ser mais agressivos do que os que surgem em mulheres magras.
Segundo Erin Giles, um dos autores do estudo, “usando marcadores para a gordura e o açúcar, conseguimos detetar onde o organismo armazena as calorias em excesso. Em modelos magros o excesso de gordura e glicose é retido pelo fígado e tecidos mamários e ósseos. Em modelos obesos, o excesso de gordura e glicose é retido pelos tumores, estimulando o seu crescimento”. Por outras palavras: se somos magros, as calorias em excesso vão para tecidos saudáveis. Se somos obesos, o excesso de calorias alimenta o tumor. A investigadora acrescenta: “isto implica que a janela da menopausa pode ser uma oportunidade para as melhores controlarem o seu risco de cancro da mama através da gestão do peso”.
O estudo além disso mostrou que os tumores de animais obesos têm níveis superiores de recetores de progesterona, o que parece dar aos tumores uma vantagem metabólica de crescimento. Quando analisaram cancros da mama em humanos, os investigadores descobriram que esses tumores que expressam o recetor de progesterona apresentam a mesma vantagem metabólica.
Usando um modelo pré-clínico, os investigadores descobriram que ganhar peso durante a menopausa é particularmente prejudicial para aquelas que já são obesas no início da menopausa. Os resultados deste estudo sugerem que a combinação da obesidade com aumento de peso durante a menopausa pode influenciar o cancro da mama de duas formas: 1 – os tumores que surgem em mulheres obesas parecem ter uma vantagem metabólica para se desenvolverem melhor; 2 – a incapacidade para armazenar as calorias em excesso em tecidos saudáveis podem estimular o crescimento do tumor.
No que diz respeito à estratégia a seguir-se no sentido de se reduzir o risco de cancro da mama, Erin Giles diz que “embora os medicamentos possam ser úteis a controlar o risco de cancro da mama em mulheres obesas após a menopausa, os nossos resultados sugerem que uma combinação de dieta e exercício poderá ser igual ou mais benéfico”. O grupo de investigação estão agora a testar se intervenções como dieta e exercício durante a menopausa pode melhorar o prognóstico destas mulheres.
Para um livro de referência que pode servir de orientação para um plano de gestão de peso eficaz e além disso de otimização da saúde em geral, recomendamos o livro “Eat to Live” de Joel Fuhrman.
Referências:
https://cancerres.aacrjournals.org/content/72/24/6490.full
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/cncr.27527/abstract
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