Cancro da mama: como prevenir?

Não confundamos as coisas. Prevenção não significa o mesmo que deteção precoce. Ambas significam que se tomem medidas pro-ativas, mas no segundo caso o melhor que podemos fazer (e já é muito) é aumentar as probabilidades de sobrevivência ao cancro. No primeiro caso o objetivo será reduzir as probabilidades de virmos a ter a doença, o que representa, de longe, a forma mais eficaz de “tratar” o cancro.

Estamos no mês da prevenção do cancro da mama (Outubro de 2012), será por isso de se esperar que se esteja a investir numa sólida campanha de sensibilização para os fatores que poderão dar à mulher mais instrumentos para se defenderem da possibilidade de vir a ter esta doença. A ênfase acaba por recair inevitavelmente sobre o incentivo ao rastreio através de exames adequados. Talvez por isso devessemos em nome de uma certa coerência passar a chamar este mês o mês da deteção precoce do cancro da mama.

Convenhamos: detetar precocemente uma doença numa etapa onde se torna mais fácil tratar é fundamental, mas não é prevenção. Assim como detetar precocemente um cancro do pulmão não é prevenção. Prevenir significa neste caso, deixar de fumar (caso seja fumador). Ser rapidamente assistido depois de um episódio de enfarte do miocárdio também não é prevenção, é uma medida de urgência. Prevenir passa por modificar os fatores de risco que podem levar a esse episódio.

Sabemos hoje que 90 a 95% de todos os cancros são originados em causas externas que podemos controlar. O cancro da mama não escapa à regra. De acordo com as evidências disponíveis neste momento, cerca de 38% de casos de cancro da mama poderiam ser evitados caso modificássemos hábitos de estilo de vida relacionados com dieta e exercício físico. Ao contrário do que possamos julgar, a maior parte dos casos de cancro da mama acontece a mulheres sem história familiar da doença. Cerca de 5% de casos de cancro da mama devem-se a uma mutação nos genes BRCA1 ou BRCA2.

Serão todos os outros frutos do acaso? As evidências mostram que não. Vários estudos epidemiológicos relacionam estilo de vida com taxas de incidência de cancro. O facto de existirem grandes variações nas taxas de cancro entre diferentes regiões do mundo, levou os investigadores a buscar perceber o que contribuía para essas diferenças. O estudo de populações migratórias permitiu perceber que as variações estão relacionadas com as diferenças entre os estilos de vida de cada região. Um estudo avaliou a diferença nos números de cancro entre a população local do Japão e japoneses que emigraram para o Havai. Tradicionalmente no Japão os casos de cancro da mama são muito menos frequentes. No entanto, a população que emigrou para o Havai, em uma ou duas gerações apresentava uma taxa de incidência próxima do país de destino. Estes resultados mostram a importância do estilo de vida na incidência de cancro. Também nos dizem que os fatores ambientais são mais importantes do que os genéticos.

Dito isto, fica claro que precisamos assumir o controlo dos fatores que poderão contribuir para estas diferenças. Sabemos hoje que o cancro da mama é muito mais frequente em países desenvolvidos. A taxa de incidência nestes países é em média 3 vezes superior ao de países menos desenvolvidos. O Japão, por exemplo, que tinha tradicionalmente uma incidência muito mais baixa do que nos países ocidentais, está neste momento a aumentar o seu número de casos, em parte devido à “ocidentalização” dos seus costumes, em particular a dieta. Aliás, esta ocidentalização dos costumes poderá levar a um aumento de até 90% na incidência de cancro (como o da mama) até 2030, em países em vias de desenvolvimento. É um pesado efeito colateral o do progresso e do desenvolvimento social tal como hoje o concebemos. Se a taxa de doenças crónicas como o cancro fosse um fator relevante para a classificação de um país, deixaríamos de classificar como desenvolvido muitos deles. Talvez no futuro um país venha a ser classificado pela sua capacidade em evitar que a sua população adoeça e não exclusivamente pelas suas condições materiais.

cancro da mama é o cancro mais comum entre as mulheres, havendo mais de 1 milhão de casos anuais. Em pouco menos de metade dos casos, a doença é fatal, sendo a primeira causa de morte de cancro nas mulheres, perfazendo 14% de todos os casos de morte por cancro em todo o mundo. Muitos dos fatores de risco estão direta ou indiretamente relacionados com a dieta. O painel responsável pelo relatório “Food, Nutrition, Physical Activity and the Prevention of Cancer” diz estar impressionado pelas evidências que mostram a importância dos acontecimentos do início de vida, incluindo a dieta assim como fatores que afetam o estatuto hormonal, na modificação do risco de cancro da mama.

Quais são alguns dos fatores de risco conhecidos?

  • Índice de Massa Corporal: Segundo o relatório da WCRF/AICR índice de massa corporal é um fator de risco convincente para o cancro da mama. As células adiposas não são meros armazéns de gordura. Têm atividade biológica, nomeadamente aumentam os níveis de várias hormonas no organismo, tais como: a insulina, o IGF-1 e o estrogénio; todos fatores de risco envolvidos na génese do cancro da mama, criando assim um ambiente que encoraja a carcinogénese e inibe a apoptose (morte programada da célula). Além disso aumenta igualmente os valores de inflamação no corpo, outra das importantes condições favoráveis ao desenvolvimento do cancro.

  • Gordura: 
    Alguns estudos sugerem que o consumo de gorduras saturadas, particularmente as que existem nas carnes vermelhas e produtos lácteos, pode aumentar o risco de cancro da mama, em particular antes da menopausa. Com as gorduras de origem vegetal não se observa essa associação.
  • Colesterol: Níveis elevados de colesterol estão associados a um risco superior de cancro da mama. Não se trata do colesterol em si mesmo que promove o crescimento do cancro da mama, mas sim um subproduto, um metabólito conhecido por 27-hidroxicolesterol (27HC), o qual parece funcionar como o estrogénio e pode de forma independente estimular o crescimento das células de cancro que sejam sensíveis à hormona. Além disso, foi também identificada uma relação possível entre a exposição ao 27-hidroxicolesterol e a resistência aos antiestrogénios utilizados no tratamento do cancro da mama.
  • Exposição Hormonal: A exposição ao longo da vida ao estrogénio modifica o risco de cancro da mama. Quanto maior essa exposição, maior o risco. Vários eventos contribuem para uma maior circulação da hormona no organismo: primeira menstruação precoce (abaixo dos 12 anos), não ter filhos ou tê-los depois dos 30. Todos estes fatores aumentam o risco de cancro da mama. Tanto o início da puberdade como a menopausa são influenciados por fatores relacionados com a dieta, sendo que uma alimentação hipercalórica promove uma puberdade precoce. Alguns estudos em modelo animal também sugerem que a exposição a uma dieta rica em gorduras e ao estrogénio durante a gestação poderá ser um fator de risco para o cancro da mama no futuro.
  • Índice Glicémico: Um estudo sugere que o consumo de alimentos com carga glicémica elevada pode aumentar o risco de cancro da mama de recetor negativo. Outro estudo chegou às mesmas conclusões sem distinguir entre os tipos de cancro da mama. O consumo de alimentos com índice glicémico elevado durante a adolescência parece estar igualmente associado a um risco de cancro da mama superior em idade adulta.
  • Bebidas Alcoólicas: O consumo de álcool é considerado um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento do cancro. Entre os consumidores, o risco para todos os cancros aumenta com cada bebida adicional diária. No que diz respeito às mulheres o risco é maior pelo facto de metabolizarem o álcool de forma mais lenta do que os homens. Isso leva a que o seu principal constituinte, o etanol, permaneça mais tempo em circulação sanguínea, criando assim mais condições para fazer danos. Talvez esse factor contribua para o facto de o risco de cancro da mama aumentar com o consumo de bebidas alcoólicas, além de provavelmente o seu consumo aumentar os níveis de estrogénio em circulação. De facto, por cada bebida comum diária parece haver um aumento de 11% de risco de cancro da mama pós-menopausa. Um estudo envolvendo mais de 320 000 mulheres sugere que duas ou mais bebidas por dia aumenta 41% a possibilidade de desenvolver cancro da mama. A recomendação passa por limitar o consumo diário a não mais do que uma bebida alcoólica para as mulheres. Por não existir um limite claro de segurança, caso exista risco ou um episódio de cancro da mama, a recomendação é que não se beba de todo.
  • Carnes Vermelhas: Um novo estudo desenvolvido pela Harvard (Harvard’s Nurses’ Health Study II) procurou perceber a relação entre o consumo de carnes vermelhas em idades jovens e o risco de cancro da mama. De acordo com os resultados, o consumo de carnes vermelhas está associado a um aumento de 22% no risco de cancro da mama. Cada porção diária adicional de carne vermelha está associado a um aumento de 13% no risco de cancro da mama. Os autores do artigo referem que a exposição às carnes vermelhas e processadas entre a primeira menstruação e a primeira gravidez poderá ser mais importante no desenvolvimento do cancro da mama. Além disso verificaram que o risco de cancro da mama era menor em mulheres que substituíram as carnes vermelhas por leguminosas durante a juventude, sugerindo que isso se deva ao facto destes alimentos serem ricos em fibra e fitoestrogénios, ambos fatores protetores em relação a este cancro. Os autores também referem um estudo no qual se verifica que substituir uma dieta rica em gordura e proteína animal por uma dieta rica em gordura e proteína vegetal pode diminuir os níveis de estrogénio em circulação em mais de 40%.
  • Contracetivos orais: Uma meta-análise a mais de 50 estudos em todo o mundo realizada em 1996 concluiu que mulheres que eram utilizadoras regulares ou recentes de pílulas contracetivas  tinham um risco ligeiramente superior de desenvolver cancro da mama, quando comparadas com mulheres que nunca usaram a pílula. O risco era superior em mulheres que começaram a usar os contracetivos durante a adolescência. O estudo Nurses’ Health Study, o qual tem seguido mais de 116000 enfermeiras com idades compreendidas entre os 24 e os 43 anos de idade desde 1989, conclui igualmente que as mulheres que usaram contracetivos orais mostraram um aumento no risco de cancro da mama. No entanto, a maior parte desse risco foi observado nas mulheres que tomaram um tipo específico de contracetivo oral, a chamada pílula trifásica. Mais recentemente, um novo estudo sugere que a utilização de certos contracetivos orais pode estar associado a um risco 50% superior de cancro da mama.
  • Acrilamida: Embora os resultados ainda não sejam conclusivos e cheguem a conclusões contraditórias, observou-se uma relação positiva entre o consumo de acrilamida e o cancro do endométrio, do ovário e da mama. A acrilamida é produzida através da reação do calor sobre os alimentos ricos em hidratos de carbono e em particular um aminoácido chamado asparagina, quando a temperatura excede os 120 graus centígrados. Encontra-se em grandes concentrações em alimentos como batatas fritas ou torradas queimadas.
  • Fatores Ambientais: Um estudo identificou 216 substâncias químicas associadas ao cancro da mama em pelo menos 1 estudo animal. Destes químicos fazem parte químicos industriais solventes, produtos de combustão, pesticidas, tintas, radiação, subprodutos de desinfeção de água potável, medicamentos e hormonas, entre outros. Trinta e cinco destes produtos estão presentes no ar na forma de poluição e 73 estão presentes em produtos de consumo ou nos alimentos. A exposição é hoje generalizada. Quase todos os químicos causaram tumores em vários orgãos em modelo animal. A lista destas substâncias pode ser conhecida nos seguintes endereços: www.silentspring.org/sciencereview e www.komen.org/environment. Algumas destas substâncias encontram-se nos cosméticos, tal como o cádmio. Este metal pesado tem a capacidade de interferir com os recetores de estrogénio das células mamárias, imitando o efeito do estrogénio. Dessa maneira interfere com o crescimento normal dessas células e em paricular promove o desenvolvimento das células de cancro da mama sensíveis à hormona. Os dados preliminares de um estudo mostram que a exposição prolongada ao cádmio aumenta a habilidade das células de cancro da mama em migrar e invadir outros tecidos através da matriz extracelular. O estudo descobriu que estas células expostas ao metal pesado expressam níveis mais elevados da proteína SDF-1, uma proteína associada à invasão do tumor e às metástases. Outra das substâncias que poderá contribuir para o desenvolvimento da doença é o Bisfenol A (BPA), presente nas embalagens de plástico, como as garrafas de água. Para saber mais: www.breastcancerfund.org/clear-science/chemicals-linked-to-breast-cancer.
  • Vitamina D: Alguns estudos têm vindo a observar uma relação entre deficiência de vitamina D e uma maior incidência de vários cancros. Um estudo recente avaliou os níveis de vitamina D em mulheres com cancro da mama e observou que aquelas que apresentavam níveis inferiores tinham 8 vezes mais probabilidades do cancro metastizar. As mulheres diagnosticadas com cancro da mama triplo-negativo eram as que apresentavam valores mais baixos. O estudo sugere que a vitamina D possa ter um efeito protetor no desenvolvimento da doença.

Para a prevenção deste e de outros cancros as recomendações básicas passam por seguir uma dieta predominantemente à base de produtos de origem vegetal, com poucas gorduras saturadas, pouca carne vermelha e nenhuma carne processada, poucas ou nenhumas bebidas alcoólicas, baixo índice glicémico e alimentos ricos em fibra. As evidências acumulam-se confirmando o papel protetor de milhares de moléculas presentes nos alimentos de origem vegetal. Algumas dessas substâncias são já conhecidas e reconhecidas pelas suas propriedades anticancerígenas. Em relação especificamente ao cancro da mama temos já algum conhecimento que poderá ajudar na prevenção:

  • Crucíferas: De todos os vegetais, as crucíferas têm ocupado um lugar de destaque pelas suas propriedades quimiopreventivas. Parte dessas propriedades devem-se à sua concentração de uma classe de fitoquímicos chamados glucosinolatos. Estas moléculas dão origem a outras duas: os isotiocianatos e os indóis. O consumo destes vegetais, tais como os brócolos, as couves de bruxelas, todo o tipo de couves ou o agrião está associado a uma menor incidência de cancro da mama em vários estudos. Um componente em particular presente em algumas couves, o indol-3-carbinol, poderá reduzir a capacidade do estradiol promover o crescimento das células do tecido mamário, interferindo com o metabolismo do estrogénio. Para se obterem os melhores benefícios destes vegetais, devem ser consumidos crus ou então na forma de germinados.
  • Soja: A soja tem sido o centro de algumas incertezas em relação ao seu papel no cancro da mama. O receio de que pudesse ser prejudicial deve-se ao facto de ter na sua composição um tipo especial de flavonóides, as isoflavonas, também chamadas de fitoestrogénios. Estas isoflavonas de soja, chamadas fitoestrogénios pela sua semelhança estrutural com o estrogénio nas suas duas formas principais: a genesteína e a daidzeína, podem atuar tanto como o estrogénio como um antagonista, sempre com uma potência muito inferior a essa hormona. Aliás esse aspeto seletivo dos fitoestrogénios tem interessado os investigadores por poder agir positivamente noutros tecidos que beneficiam com os efeitos do estrogénio (como a densidade óssea) assim como bloquear a ação proliferativa do estrogénio (tal como as células do tecido mamário). No que diz respeito à sua ação nas células mamárias, a sua ação pode ser equiparada ao medicamento tamoxifen, utilizado para prevenir uma recidiva de cancro da mama bloqueando os recetores de estrogénio e assim impedindo que este exerça a sua ação proliferativa. Os fitoestrogénios, por terem uma constituição química capaz de se ligar a esses recetores, fazem exatamente o mesmo: ligam-se, impedindo que o estrogénio, muito mais potente, não se ligue não tendo assim a sua ação promotora do crescimento. Além disso, as isoflavonas têm uma ação inibidora diretamente sobre o tumor: são antiangiogénicas, inibindo a vascularização do tumor; são antioxidantes; anti-inflamatórias (inibindo assim um dos mecanismos essenciais ao desenvolvimento do cancro) e inibem o crescimento do tumor. Estudos mostram que não só não existem riscos no consumo da soja, como existem claros benefícios.Uma análise recente combinou os dados de 14 estudos epidemiológicos diferentes e revelou que nos países asiáticos as mulheres que consomem mais isoflavonas de soja têm 24% menos probabilidades de terem cancro da mama. A mesma associação não se verifica em países como os EUA, o que pode dever-se à qualidade da soja em si, os níveis baixos de consumo de soja quando comparados com os países asiáticos, ou pela continuidade do consumo ao longo da vida. De facto, um estudo feito em Xangai mostrou que as mulheres que consumiram mais soja ao longo da adolescência e idade adulta têm um risco inferior de cancro da mama antes da menopausa. O efeito protetor do consumo de soja parece ser maior quando existe um consumo regular de soja durante a infância e adolescência, podendo representar uma diminuição de risco na ordem dos 58%. Não é recomendado o consumo de suplementos de soja por poderem ter efeitos contrários aos que se observam quando consumida na forma de alimento completo.
  • Fibra: Comer uma dieta rica em fibra (apenas presente nos alimentos de origem vegetal), poderá diminuir o risco de cancro da mama. Uma recente meta-análise de 16 estudos vem confirmar o mesmo fator preventivo e protetor do consumo de fibra presente nos frutos, vegetais e cereais integrais em relação ao cancro da mama. Os resultados mostraram que as mulheres que consomem mais fibra nas suas dietas têm menor risco de cancro da mama independentemente de outros fatores de risco tais como fumar, consumir álcool, obesidade e menopausa. A análise foi financiada pela World Cancer Research Fund, fazendo parte da atualização contínua do CUP. O estudo descobriu que para cada 10 gr de fibra consumida diariamente – um pouco menos de uma chávena de feijões – o risco de cancro da mama é 5% inferior. Consumir 20 gr de fibra diariamente significaria um risco 10% inferior e por aí adiante.
  • Sementes de Linhaça: Moer sementes de linhaça e consumi-las diariamente poderá contribuir para prevenir o cancro da mama. Estas sementes são as melhores fontes de lignanasDevem ser moídas na hora com um moinho de café (por exemplo) para não haver perda de nutrientes. Além de serem ricas nestes fitoestrogénios, são igualmente uma das melhores fontes de ómega-3 (ALA), ácidos-gordos necessários para a síntese de moléculas anti-inflamatórias, necessárias para impedir ou dificultar a criação de um ambiente favorável ao desenvolvimento do cancro, o qual depende dos mecanismos envolvidos na inflamação para se desenvolver. São também uma boa fonte de selénio. Um estudo recente, levando em conta que o consumo de alimentos ricos em lignanas está associado a um menor risco de cancro da mama, avaliou o contributo destas substâncias na sobrevivência desse cancro após o diagnóstico. Foram avaliadas 1122 mulheres, acompanhadas durante 2 anos após o diagnóstico. Observou-se uma redução de cerca de 29% na mortalidade devido ao cancro da mama no grupo de mulheres com um consumo maior de lignanas, quando comparado com outro onde o consumo foi baixo.
  • Romã: A romã, juntamente com alguns cogumelos, é um dos poucos alimentos que contém substâncias inibidoras da enzima aromatase, responsável pela produção de estrogénio. Um estudo recente sugere que o consumo de sumo de romã poderá prevenir o desenvolvimento do cancro da mama. A somar-se a estes benefícios podemos acrescentar o facto da romã ter propriedades antiangiogénicas e anti-inflamatórias interferindo assim em vários e importantes mecanismos biológicos do qual o cancro depende para se desenvolver e proliferar.
  • Frutos silvestres: Em estudos animais onde se avaliaram os efeitos de mirtilos e amoras em tumores de cancro sensíveis ao estrogénio, uma dieta de 6 meses com estes frutos reduziu o volume do tumor nos ratos em 70%. A investigadora Harini Aiyer da Georgetown University School of Medicine, observou também que ao adicionar ácido elágico a células de cancro da mama tratadas com o fármaco Tamoxifen, estas tornavam-se menos resistentes aos efeitos do medicamento. “Se virmos o estrogénio como o combustível de alguns cancros da mama que faz o carro avançar, poderemos utilizar o ácido elágico, que funciona como um anti-estrogénio, para interromper o abastecimento de combustível ou até mesmo parar o motor”, explica Aiyer. Além dos efeitos anti-estrogénicos, os fitoquímicos presentes nos frutos vermelhos poderão inibir o desenvolvimento do cancro da mama prevenindo danos e melhorando a reparação do ADN.
  • Apigenina (Salsa): Segundo um estudo da Universidade de Missouri, a apigenina, fitoquímico presente em vegetais como a salsa e o aipo, poderá vir a ser usado como alternativa não-tóxica para o tratamento de um tipo agressivo de cancro da mama. Pela primeira vez, um estudo demostrou a eficácia desta substância no tratamento de um tipo de cancro da mama induzido pela utilização de um químico usado em terapia de substituição hormonal.
  • Chá verde: As folhas de chá verde são ricas num certo tipo de polifenóis, as catequinas, sendo estas as grandes responsáveis pelo potencial anticancerígeno do chá verde. A catequina que tem mostrado maior potencial pelas suas propriedades quimiopreventivas é conhecida pelo nome de EGCG ou epigalocatequina-3-galate, muito abundante no chá verde. Vários estudos epidemiológicos têm mostrado um efeito preventivo em vários cancros do consumo de chá verde. Tem mostrado propriedades anticancerígenas em cancros como o da mama, o da próstata, da bexiga, entre outros.
  • Cogumelos: Um estudo recente chegou à conclusão que mulheres que consomem pelo menos 10 gramas de cogumelos frescos diariamente têm um risco 64% inferior de desenvolver cancro da mama. Tal como a romã, os cogumelos são dos únicos alimentos com substâncias capazes de inibir a enzima aromatase na sua produção de estrogénio. mesmo os cogumelos comuns, tais como os brancos ou os portobello, contêm inibidores da aromatase. Além disso têm igualmente substâncias antiangiogénicas. Devem ser consumidos cozinhados por terem uma substância apenas presente quando estão crus e que poderá ser cancerígena.
  • Exercício físico: Sabe-se hoje, com base em mais de 70 estudos epidemiológicos e outros que continuam a ser realizados, que o exercício físico tem um papel importante, tanto na prevenção como na sobrevivência. Segundo esses resultados as mulheres que levam uma vida mais ativa fisicamente têm 25% menos probabilidades de vir a ter cancro da mama, mesmo começando em idades tão avançadas como os 50 anos. Alguns estudos realizados avaliaram o efeito do exercício nos níveis das hormonas sexuais e da insulina no sangue. O nível dessas hormonas no sangue diminui com o exercício, o que está associado a um menor risco de cancro da mama. Outra hormona importante que também é afetada é o IGF-1, igualmente associado a um maior risco da doença. A epidemiologista Melinda Irwin sugere que o facto de haver uma redução destas hormonas no sangue pode explicar os benefícios do exercício. Em relação à insulina a investigadora observa que igualmente a sua redução é desejável pois esta hormona “aumenta a proliferação das células” e portanto pode promover o crescimento do tumor.

E após o diagnóstico? Os efeitos de certos alimentos e alterações de estilo de vida não se limitam à prevenção. Faz aliás parte das recomendações do relatório da WCRF/AICR que sejam seguidas pelos sobreviventes de cancro as mesmas orientações que são dadas para a prevenção. Alguns estudos têm mostrado os seus benefícios mesmo após o diagnóstico de cancro da mama. Alguns exemplos:

  • Crucíferas: Um estudo realizado na China e apresentado na conferência anual da American Association for Cancer Research em Abril de 2012 conclui que o consumo de legumes crucíferos (couves, brócolos, couve-de-bruxelas) por mulheres que tenham tido cancro da mama, reduz significativamente o risco de mortalidade por recidiva. Foram avaliadas 4886 mulheres sobreviventes de cancro da mama ao longo de 36 meses depois do diagnóstico. As mulheres com o maior consumo de legumes crucíferos por dia mostraram uma taxa de redução de risco de mortalidade de 62% e de recidiva de 35%. Outro estudo muito recente mostrou que um dos metabolitos do I3C presente neste vegetais, o diindolilmetano (DIM), poderá ser eficaz no tratamento do cancro da mama triplo-negativo, uma das formas mais agressivas desta doença.
  • Soja: A edição de Julho da revista científica American Journal of Clinical Nutrition traz um artigo com os resultados de estudos realizados a mais de 9500 sobreviventes de cancro da mama da China e dos Estados Unidos. Os números mostram que o consumo de soja diminui 25% a probabilidade de uma recidiva9514 mulheres foram seguidas ao longo de uma média de 7 anos após o diagnóstico da doença. Um consumo de um valor igual ou superior a 10 mg de isoflavonas presentes naturalmente na soja está estatisticamente relacionado com uma diminuição de risco de recidiva de cancro da mama, segundo os resultados destes estudos. Estes resultados contrariam o receio que existia de que o consumo de soja em mulheres com cancro da mama poderia agravar a situação. Um estudo confirma os benefícios do consumo de soja na prevenção de recidivas em mulheres com cancro da mama mesmo para aquelas a fazer tratamento com Tamoxifen.
  • Sementes de Linhaça: Um estudo recente, levando em conta que o consumo de alimentos ricos em lignanas está associado a um menor risco de cancro da mama, avaliou o contributo destas substâncias na sobrevivência desse cancro após o diagnóstico. Foram avaliadas 1122 mulheres, acompanhadas durante 2 anos após o diagnóstico. Observou-se uma redução de cerca de 29% na mortalidade devido ao cancro da mama no grupo de mulheres com um consumo maior de lignanas, quando comparado com outro onde o consumo foi baixo. O estudo conclui que o consumo elevado de lignanas pode estar associado a uma maior sobrevivência nas mulheres com cancro da mama após a menopausa.
  • Chá verde: Um estudo sugere que o consumo de chá verde está associado a um melhor prognóstico em mulheres com cancro da mama de estágio I e II. Em modelos xenográficos, os polifenóis do chá verde mostraram inibir o crescimento do tumor e suprimir metástases, assim como reduzir a formação de vasos sanguíneos no cancro da mama de recetor negativo.
  • Exercício físico: Uma meta-análise de 6 estudos que incluem mais de 12000 muheres com cancro da mama conclui que fazer exercício físico após o diagnóstico reduz o risco de morrer da doença em 34% dentro de um período de 9 a 18 anos.
  • Obesidade: Não só o excesso de peso aumenta o risco de se ter cancro da mama, como aumenta a probabilidade de recidiva e morte de cancro de mama após o diagnóstico. Um estudo avaliou 7000 mulheres com cancro da mama a fazerem tratamento convencional. As mulheres obesas, com cancro da mama com recetor de estrogénio positivo, apresentavam 50% mais probabilidades de morte precoce quando comparadas com as mulheres com índices de massa corporal inferiores. Os autores sugerem que a explicação para isso passe pelo facto do excesso de gordura corporal estar associado a níveis superiores de insulina e inflamação, ambos associados ao cancro da mama com recetor de estrogénio postivo.
  • Produtos lácteos gordos: Investigadores acompanharam 1893 mulheres diagnosticadas com cancro da mama em estádios precoces entre 1997 e 2000. Aquelas que consumiram maiores quantidades de produtos lácteos gordos (uma ou mais porções por dia) apresentaram uma mortalidade de cancro da mama superior. Especificamente, essas mulheres apresentaram um risco 64% superior de morrerem de qualquer causa e um risco 49% superior de morrerem do seu cancro da mama durante o período de acompanhamento.
  • Stress:  Investigadores da Vanderbilt Center for Bone Biology descobriram que os mecanismos associados ao stress podem promover a colonização do osso por parte de células de cancro da mama. Este estudo mostrou haver uma relação entre a ativação do sistema nervoso simpático e a preparação do ambiente propício do osso para as metástases das células de cancro da mama. Florent Elefteriou, um dos investigadores e diretor do Centro onde se processou a investigação, diz que “a ativação do sistema nervoso simpático pode remodelar o ambiente do osso e torná-lo mais favorável à metastização das células de cancro”. Esta ideia é suportada pelo facto de se saber que pacientes de cancro da mama que tenham passado por stress intenso ou depressão a seguir ao tratamento têm tempos de sobrevivência inferiores. Tanto o stress como a depressão ativam o sistema nervoso simpático. Um dos autores do estudo conclui dizendo que “esforços para reduzir o stress e a depressão nos pacientes com cancro pode ter benefícios em termos de prevenção de metástases“.

A verdadeira prevenção passa por assumirmos o controlo pelas nossas vidas modificando hábitos e comportamentos de risco. Com aquilo que já sabemos hoje, temos muitos instrumentos que podem contribuir para alterar um cenário global de cancro, uma doença diretamente relacionada com estilo de vida. E as evidências têm mostrado inclusive que nunca é tarde demais para fazermos mudanças e contribuirmos para a nossa recuperação. Embora também mostrem que quanto mais cedo adotarmos comportamentos protetores, consumindo alimentos e comportamentos benéficos e eliminando outros que são prejudiciais, menos probabilidades teremos de vir a desenvolver cancro da mama. Somos nós que podemos fazer a diferença. Entre um momento onde estamos saudáveis e outro onde detetamos um cancro da mama, temos um vasto leque de medidas que podemos tomar como prevenção. Depois disso, aí sim, só nos resta a deteção o mais precoce possível.

Algumas ligações úteis:

https://www.breastcancerfund.org/

https://www.silentspring.org/

https://ww5.komen.org/

https://www.aicr.org/learn-more-about-cancer/breast-cancer/#prevention

https://foodforbreastcancer.com/

www.mamahelp.pt

Referências:

https://www.aicr.org/research/research_science_preventability.html

https://www.mayoclinic.com/health/brca-gene-test/MY00322

https://www.cancer.gov/cancertopics/factsheet/Risk/BRCA

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/7017215

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1118507/

https://medicalxpress.com/news/2012-05-cancer-incidence-percent.html

www.dietandcancerreport.org

https://www.dietandcancerreport.org/cup/current_progress/breast_cancer.php

https://www.dietandcancerreport.org/expert_report/recommendations/index.php

https://www.dietandcancerreport.org/cup/index.php

https://preventcancer.aicr.org/site/News2?page=NewsArticle&id=21869

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12865454?dopt=Citation

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