Agora que o Verão está a chegar quase ao fim, convém relembrar os principais estudos publicados nos últimos meses com especial relevância para a prevenção do cancro (baseado num artigo da AICR):
1. Será o cancro apenas uma questão de sorte?
No princípio deste ano um estudo foi publicado na revista Science com o título “Variation in Cancer Incidence Among Tissues Can Be Explained By the Number of Stem Cell Divisions”
O que o estudo encontrou foi uma correlação entre o risco de alguns cancros e o número de divisões celulares observadas nesses tecidos. Por outras palavras, quanto mais vezes se dividem as células de um certo tecido corporal ao longo da vida, mais probabilidades temos de vir a ter um cancro desse tipo. No entanto, o estudo não inclui vários tipos de cancro muito comuns, como a próstata e a mama, além de só ter analisado a população norte-americana, pelo que torna-se difícil inferir um resultado que abranja toda a população mundial. Além disso, o facto de poder haver uma mutação genética numa célula, isso não significa que necessariamente leve ao desenvolvimento de um cancro. Os fatores externos que criam condições para que essa célula pré-cancerosa chegue a ser um tumor clinicamente observável, podem muito bem estar dependentes de fatores de risco externos, como dieta, peso corporal e exercício físico. Em resumo: de acordo com as melhores evidências disponíveis, o cancro depende de fatores de risco externos que podemos modificar.
2. Atividade física antes de um diagnóstico de cancro colorretal poderá melhorar a sobrevivência.
Já se sabia que o exercício físico diminui o risco de cancro colorretal, mas um novo estudo sugere que poderá também ser importante na sobrevivência após um diagnóstico da doença . Este estudo incluiu cerca de 1300 sobreviventes de cancro colorretal aos quais foi perguntado qual a frequência de exercício físico praticado antes do diagnóstico. Os resultados sugerem que quanto mais atividade maior a probabilidade de sobrevivência. Quando comparados com aqueles que faziam o equivalente a uma caminhada de menos de 1 hora por semana, os sobreviventes que fizeram o equivalente a caminhadas de 1 a 2,5 horas, viram o seu risco de morte diminuir cerca de 50%. O equivalente a 5 a 10 horas de caminhada por semana estava associado a uma diminuição na mortalidade de cerca de 70%.
3. Bebidas açucaradas associadas a maior mortalidade.
Uma nova análise que quantificou os efeitos das bebidas açucaradas nas 3 principais causas de morte em todo o mundo, concluiu que estas bebidas contribuíram para cerca de 184000 mortes em todo o mundo em cada ano, das quais cerca de 6000 foram de cancro . Poderão também ter contribuido para 133000 mortes de diabetes e 45000 de doenças cardiovasculares. Dos 20 países com mais população, o México tem a taxa de mortalidade mais elevada devido ao consumo destas bebidas com cerca de 405 mortes por cada milhão de habitantes. Logo a seguir surgem os EUA, com 125 mortes por milhão de habitantes. O estudo reforça os efeitos poderosos para a saúde que tem remover este elemento da dieta, independentemente de outras alterações que se façam.
4. Boa forma física em homens de meia-idade poderá diminuir o risco de cancro colorretal e do pulmão.
Um estudo que incluiu cerca de 14000 homens com mais de 40 anos concluiu que aqueles que estavam em melhor forma física tinham um risco 55% inferior de ter cancro do pulmão e 44% inferior de cancro colorretal . Entre aqueles que desenvolveram cancro do pulmão, colorretal ou próstata com mais de 65 anos, um nível de forma física superior estava associado a um risco 32% inferior de morte por cancro e 68% inferior de morte por doença cardiovascular, quando comparados com homens com uma forma física baixa.
5. Beber chá poderá diminuir o risco de mortalidade precoce.
Um estudo que incluiu cerca de 1000 mulheres com idades superiores a 75 anos, sugere que o consumo de chá e outros alimentos ricos em flavonoides está associado a um risco inferior de morrer de cancro e doença cardiovascular, entre outras causas . As participantes com uma ingestão superior de flavonoides tiveram um risco 40% inferior de morte ao longo de 5 anos, quando comparadas com aquelas que tinham uma ingestão inferior.
6. Fatores de risco metabólicos poderão (também) aumentar o risco de alguns cancros.
De acordo com um estudo que incluiu cerca de 565000 participantes europeus acompanhados ao longo de 12 anos, a pressão arterial elevada, o peso e os níveis de açúcar no sangue, estão entre as condições metabólicas que aumentam o risco de cancro . Estes fatores fazem parte de uma constelação de fatores de risco conhecida como a síndrome metabólica, da qual fazem parte também o colesterol e os triglicéridos. Uma combinação de pressão arterial elevada, níveis elevados de açúcar no sangue, triglicéridos, colesterol e IMC elevados, está particularmente associada ao risco superior de cancro do fígado e do rim nos homens, e do endométrio e pâncreas na mulher.
7. O excesso de peso na adolescência poderá estar associado a um risco superior de cancro colorretal décadas mais tarde.
Um estudo que utilizou dados de dois estudos de grandes dimensões (Nurses’ Health Study e o Health Professionals Follow-up) concluiu que mulheres que tiveram excesso de peso em criança tiveram um risco 28% superior de cancro colorretal em idade adulta. Aquelas que tinham excesso de peso na adolescência tiveram um risco 27% superior, quando comparadas com aquelas que eram mais magras nessas idades . Outro estudo sugere que o excesso de peso em adolescentes do sexo masculino está associado a um risco 2,08 vezes superior de cancro colorretal em idade adulta e a obesidade está associada a um risco 2,38 vezes superior .
8. Novos relatórios sobre o cancro do fígado e da vesícula biliar.
Os dois mais recentes relatórios do WCRF/AICR sobre o cancro do fígado e da vesícula biliar concluem que:
- Cancro do fígado: beber café poderá diminuir o risco deste cancro; o excesso de peso e obesidade aumentam o risco.
- Cancro da vesícula biliar: o excesso de peso e obesidade aumentam o risco deste cancro.
Referências:
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