Monsantos e Pecadores – Transgénicos poderão causar cancro

Nem há um mês seria publicado um estudo desenvolvido na Universidade de Stanford que parecia ter dado o golpe final nos supostos benefícios dos alimentos de agricultura biológica. Corriam os títulos de jornais apressados em dizer às pessoas que afinal não havia vantagem nenhuma em gastar mais dinheiro em produtos que afinal não traziam grandes benefícios para a saúde. O facto é que, como já escrevemos antes, isso seria falhar o verdadeiro objetivo de se investir neste tipo de alimentos: o de se evitar consumir produtos tóxicos cujas consequências ainda não serão inteiramente conhecidas. Podemos, no entanto, estar um pouco mais perto de as conhecer. Há poucos dias foi publicado um estudo na revista científica Food and Chemical Toxicology que a confirmar-se acrescenta fortes suspeitas sobre a segurança dos produtos geneticamente modificados. O estudo, desenvolvido por investigadores da Universidade de Caen, em França, avaliou o impacto em ratos do consumo de milho geneticamente modificado e do mais utilizado herbicida no mundo, o Roundup. Ambos os produtos são comercializados pela empresa de biotecnologia Monsanto. Desde os anos 90 que temos assistido a uma gradual infiltração na cadeia alimentar de produtos para os quais as garantias de segurança são no mínimo insuficientes. Na realidade, o que estamos a assistir nos últimos 15 anos, pode ser afinal uma experiência coletiva na qual as cobaias somos todos nós, consumidores. Senão veja-se: aparentemente este estudo terá sido o único a avaliar os efeitos destes produtos a longo prazo num modelo animal. Até então, os estudos realizados que terão levado à aprovação destes produtos forma realizados em animais ao longo de 90 dias quando o seu tempo de vida é de 700. Neste estudo foram utilizados 200 ratos alimentados durante um período máximo de 2 anos (tempo de vida destes animais), separados em 3 grupos distintos: 1 – alimentados com milho transgénico OGM NK603; 2 – alimentados com milho trangénico OGM NK603 tratado com Roundup; 3 – alimentados com milho não-transgénico tratado com Roundup. A quantidade de milho utilizado equivale ao consumo regular de sujeitos norte-americanos.

De acordo com os resultados, os ratos alimentados com os produtos geneticamente modificados e o herbicida desenvolveram tumores mamários assim como danos graves hepáticos e renais. 50% dos ratos machos e 70% dos ratos fêmeas morreram prematuramente contra 30 e 20% dos animais do grupo de controlo. O estudo conclui também que tanto o milho NK603 como o Roundup causaram danos semelhantes à saúde dos ratos, consumidos juntos ou em separado. Uma das descobertas igualmente relevantes tem que ver com o facto de que mesmo em doses muito baixas, dentro dos limites autorizados, o consumo de Roundup está associado a problemas de saúde. Isto leva-nos de volta ao estudo recente de Stanford sobre os alimentos de agricultura biológica. Uma das coisas que era dito nesse estudo era que os vestígios de pesticidas encontrados nos legumes convencionais estariam dentro dos limites aprovados. Obviamente que devemos ter muita cautela com esses limites, podendo mesmo não ser suficientes. O único limite de segurança será a não exposição a estes produtos tóxicos. O facto da incidência do cancro nos ratos fêmeas ser maioritariamente da mama, talvez nos dê alguma pista da razão para este cancro ser tão comum em países ocidentais.

De acordo com os especialistas, estes resultados deverão ser suficientes para reforçar a segurança dos consumidores ao não permitir o consumo destes produtos. Dr. Michael Antoniou, biólogo molecular na King’s College London partilha o impacto que teve nele estes resultados: “Esta pesquisa mostra um extraordinário número de tumores a desenvolverem-se mais cedo e mais agressivamente, particularmente em animais fêmeas. Estou chocado pelos impactos extremamente negativos para a saúde (destes produtos)”. Segundo este investigador o estudo pode ser “a investigação mais completa alguma vez publicada acerca dos efeitos para a saúde dos OGM e do herbicida Roundup”.

Embora o estudo deva ser analisado antes de se tirarem conclusões definitivas, devolve para o campo da discussão os eventuais perigos da utilização de produtos e modificações genéticas para a saúde humana. Embora a Monsanto insista na segurança dos seus produtos, este estudo mostra sinais alarmantes que podem contribuir para os números epidémicos de cancro nas nossas sociedades desenvolvidas. Neste caso foram avaliados milho geneticamente modificado para resistir ao herbicida Roundup. Não podemos deixar de achar que de Santo, esta empresa terá muito pouco. E enquanto não podemos ter a certeza da segurança de produtos suspeitos, devemos sempre aplicar o princípio da precaução, ou seja, em caso de dúvida, evitá-los.