Hoje temos disponível uma série de recomendações que de acordo com as estimativas do relatório “Food, Nutrition, Physical Activity, and the Prevention of Cancer: a Global Perspective” caso fossem seguidas evitariam de 30 a 40% de todos os cancros. Estas recomendações são o culminar do trabalho rigoroso de um painel de especialistas internacionais dedicados a reunir todos os estudos publicados disponíveis acerca da relação entre cancro e estilo de vida. São por isso baseadas nas melhores evidências disponíveis, as quais foram identificadas, coletadas, analisadas, resumidas e julgadas de forma sistemática, transparente e independente. Estas recomendações foram criadas de forma a contribuírem para padrões alimentares e estilos de vida saudáveis assim como o bem-estar.
Um estudo recente avaliou os resultados em participantes caso seguissem estas recomendações. Aqueles que seguiram 7 das 10 recomendações viram uma redução de 34% no risco de morrerem de várias doenças quando comparados com outros que não seguiram as recomendações.
Os investigadores avaliaram cerca de 380000 pessoas em 9 países europeus ao longo de 12 anos, examinando as suas dietas e estilos de vida de forma a verificarem até que ponto seguiam essas 7 recomendações. De acordo com a Dra Teresa Norat, da School of Public Health no Imperial College London, a autora principal do estudo, “este grande estudo europeu é o primeiro a mostrar que existe uma forte associação entre seguir-se as recomendações da WCRF/AICR sobre o peso corporal, atividade física, dieta, consumo de álcool e amamentação e um risco reduzido de morrer de cancro, doenças circulatórias e respiratórias”.
Aqueles que de forma mais estrita seguiram as recomendações da WCRF/AICR tiveram um risco 50% inferior de morrer de doenças respiratórias, 44% de doenças circulatórias e 20% de cancro, quando comparados com aqueles que menos as seguiram. As recomendações com maior impacto na redução do risco de morte por doença foram: ser o mais magro possível sem ter falta de peso (22% de redução no risco) e comer predominantemente alimentos de origem vegetal (21%). No que diz respeito ao cancro, limitar o consumo de álcool e seguir as recomendações de consumir alimentos vegetais, reduziram o risco de morte em 21 e 17% respetivamente.
As recomendações sugeridas pela AICR/WCRF destinam-se a reduzir o risco de vários tipos de cancro. No entanto ainda existem poucos dados em relação ao risco de cancros específicos. De acordo com o estudo referido anteriormente, as mulheres que seguiram 5 ou mais recomendações tiveram uma redução de 16% no risco de cancro da mama quando comparadas com aquelas que seguiram menos de 3.
Um estudo recente procurou avaliar se existe redução no risco de cancro da mama ao se seguirem estas recomendações. De acordo com os resultados as mulheres que já tenham tido a menopausa e que sigam pelo menos 5 das recomendações para a prevenção do cancro, poderão reduzir o risco de cancro da mama em metade, quando comparadas com aquelas que não sigam nenhuma. Este estudo vem reforçar o facto de que as opções de estilo de vida poderão fazer a diferença na redução do risco de cancro da mama.
Os autores do estudo analisaram cerca de 31000 mulheres com idades compreendidas entre os 50 e os 76 anos sem nenhum história de cancro da mama no início do estudo. Após 7 anos o estudo mostrou que seguir qualquer uma das 5 recomendações estava relacionado com uma redução de 60% no risco de desenvolver cancro da mama quando comparado com mulheres que não aderiram a nenhuma das recomendações. Cada uma das recomendações está relacionada com uma redução de 11% no risco.
As 3 recomendações associadas a uma maior redução no risco de cancro da mama são: consumir muitos frutos, legumes e cereais integrais; ter um peso saudável e beber uma ou menos doses de vinho por dia.
Sabemos hoje que 95% de todos os cancros são originados em causas externas que podemos controlar. O cancro da mama não escapa à regra. De acordo com a AICR, até 38% de casos de cancro da mama poderiam ser evitados caso modificássemos hábitos de estilo de vida relacionados com dieta e exercício físico. Ao contrário do que possamos julgar, a maior parte dos casos de cancro da mama acontece a mulheres sem história familiar da doença. Cerca de 5% de casos de cancro da mama devem-se a uma mutação nos genes BRCA1 ou BRCA2.
O cancro da mama é o cancro mais comum entre as mulheres, havendo mais de 1 milhão de casos anuais. Em pouco menos de metade dos casos, a doença é fatal, sendo a primeira causa de morte de cancro nas mulheres, perfazendo 14% de todos os casos de morte por cancro em todo o mundo. Muitos dos fatores de risco estão direta ou indiretamente relacionados com a dieta. O painel responsável pelo relatório “Food, Nutrition, Physical Activity and the Prevention of Cancer” diz estar impressionado pelas evidências que mostram a importância dos acontecimentos do início de vida, incluindo a dieta assim como fatores que afetam o estatuto hormonal, na modificação do risco de cancro da mama.
Investigadores da UCLA’s Jonsson Comprehensive Cancer Center (JCCC) publicaram o primeiro estudo na revista Nutrition and Cancer sobre a adesão a 8 das recomendações da AICR/WCRF e a sua relação com o cancro da próstata agressivo. Os resultados mostram haver uma diminuição muito significativa no risco deste tipo de cancro associada a uma adesão mais estrita a essas recomendações.
Foram avaliados cerca de 2200 homens com idades compreendidas entre os 40 e os 70 anos com um diagnóstico recente de cancro da próstata. A adesão a menos de 4 das 8 recomendações da AICR/WCRF estava relacionada com um aumento de 38% no risco de desenvolver um cancro agressivo quando comparados com aqueles que seguiram 4 ou mais recomendações. Em particular, comer menos de 500 gr. de carne vermelha por semana estava estatisticamente relacionado com uma diminuição de risco de cancro agressivo para todos os sujeitos no estudo.
Lenore Arab, a autora principal do estudo, diz que “a maior parte dos homens estão em risco de cancro da próstata, mas é o nível de agressividade da doença que é mais relevante do ponto de vista clínico. Estes resultados sugerem que mesmo homens com cancro da próstata podem tomar o controlo da doença e moderar a sua agressividade através da dieta e de escolhas de estilo de vida“.
Tal como o cancro da mama, o cancro da próstata é maioritariamente mais comum em países desenvolvidos, podendo a sua taxa de incidência ser cerca de 25 vezes superior nestes países em relação aos países de menores rendimentos. As taxas de incidência ajustadas pela idade podem chegar aos mais de 100 casos em cada 100000 habitantes nos EUA contrastando com menos de 10 na maioria da Ásia. Os estudos feitos em populações migratórias apontam para uma forte influência de fatores ambientais no risco do cancro da próstata. Populações que emigraram para os EUA vindos do Japão e da China, com taxas de incidência tradicionalmente muito baixas, viram os números de casos de cancro da próstata aumentar até se aproximarem das taxas de incidência do país de destino em menos de duas gerações. Um estudo mais recente avaliou a incidência de cancro em indianos no seu país de origem e em países para onde emigraram, concluindo que a incidência é maior nestes últimos, sendo a dieta um fator central nessas diferenças.
Das evidências que existem disponíveis em relação aos fatores de risco associados ao cancro da próstata, todas parecem indicar que uma dieta pobre em gorduras, rica em vegetais e frutos, evitando-se o consumo de alimentos hipercalóricos, carne, produtos lácteos e cálcio, é provavelmente eficaz na prevenção do cancro. Segundo o painel responsável pelo relatório “Food, Nutrition, Physical Activity and the Prevention of Cancer”, as evidências mais consistentes sugerem que alimentos que contêm licopeno ou selénio provavelmente diminuem o risco de cancro da próstata. Por outro lado, alimentos com níveis elevados de cálcio são uma causa provável deste cancro.
Referências:
https://ajcn.nutrition.org/content/96/1/150.abstract
https://cebp.aacrjournals.org/content/early/2013/06/18/1055-9965.EPI-13-0210.abstract.html?papetoc
https://www.aicr.org/learn-more-about-cancer/breast-cancer/#prevention
https://www.aicr.org/research/research_science_preventability.html
https://www.mayoclinic.com/health/brca-gene-test/MY00322
https://www.cancer.gov/cancertopics/factsheet/Risk/BRCA
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1972548/
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