vitaminD1_1205160515O papel da vitamina D para a saúde vai para lá da densidade óssea e da redução do risco de fraturas. Esta vitamina (na realidade uma hormona) também tem efeitos benéficos na modulação do sistema imunitário e reduz o risco de muitas doenças tais como o cancro, doenças cardiovasculares, depressão e diabetes. O efeito protetor da vitamina D em relação ao cancro foi pela primeira vez proposto em 1980. Este estudo baseou-se na observação do facto de haver uma incidência maior de cancro do cólon nas regiões de latitudes mais altas (mais longe do equador). Desde então muitos outros estudos têm sugerido haver uma relação inversa entre a exposição solar e vários tipos de cancro. Uma análise recente dos estudos disponíveis mostrou haver uma relação inversa entre a exposição solar e pelo menos 15 tipos de cancro diferentes. Outro estudo sugere que pessoas que vivam em regiões com exposição solar elevada apresentam menor risco de cancro do pâncreas. De facto, segundo um estudo que avaliou os níveis de vitamina D como prognóstico do cancro do ovário, níveis baixos de vitamina D3 na altura de um diagnóstico de cancro poderão significar uma probabilidade inferior de sobrevivência a 5 anos. Resultados semelhantes levaram investigadores chineses a concluir igualmente que as taxas de mortalidade na China dos principais cancros são maiores quanto menos radiação UVB estiver disponível. O estudo sugere que a industrialização e uma exposição deficiente ao sol geralmente convergem.

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Os mecanismos pelos quais a vitamina D pode interferir com o risco de cancro poderão ser vários: regulação de cerca de 200 genes responsáveis pelo controlo do crescimento e diferenciação celular; diminuição de risco da transformação de células saudáveis em malignas; inibição da proliferação das células de cancro; indução da apoptose; inibição da angiogénese; ação anti-inflamatória; além disso os seus benefícios poderão incluir o aumento da eficácia na reparação do ADN, proteção antioxidante e imunomodelação.

Dito isto, e à luz do que hoje temos disponível como evidência, parece sensato sugerir que passemos de uma política de “exponha-se o mínimo possível à radiação solar” de forma a reduzir o risco de cancro da pele, para outra de “faça um uso responsável do sol” de forma a provavelmente prevenir uma série de cancros. Os resultados de vários estudos apontam para para a probabilidade de que a exposição (responsável) à radiação UVB, através da produção de vitamina D na pele, é inversamente proporcional à taxa de mortalidade de vários cancros.

body-vitaminDA forma mais eficaz (e mais barata) de aumentar os níveis de vitamina D no organismo é através da exposição solar. No entanto, nem sempre o sol está disponível, ou outros fatores impedem que possamos beneficiar da sua radiação quando utilizada de forma responsável. A dieta pode também ser um contributo para a manutenção de valores saudáveis de vitamina D. Uma dessas fontes alimentares trata-se do cogumelo.

Investigadores da Boston University School of Medicine descobriram que comer cogumelos que contenham vitamina D2 pode ser tão eficaz a aumentar e manter os níveis de vitamina D (25-hidroxivitamina D) como tomar vitamina D2 ou D3 na forma de suplemento. O estudo consistiu em 3 grupos de voluntários aos quais se deram cápsulas contendo 2000 Unidades Internacionais (UI) de vitamina D2, 2000 UI de vitamina D3 ou 2000 UI de pó de cogumelos que contenham vitamina D2 uma vez por dia durante 12 semanas no inverno. Os níveis de vitamina D de base no início do estudo eram iguais entre os participantes tendo aumentado nos três grupos de forma gradual estabilizando ao fim de sete semanas mantendo-se assim durante as próximas cinco semanas. Ao fim de 12 semanas os níveis de vitamina D não eram diferentes entre os três grupos.

mushroomDe acordo com Michael F. Holick, PhD, MD, o principal autor do estudo, “estes resultados fornecem evidências de que a ingestão de cogumelos que tenham sido expostos à radiação ultravioleta e que contenham vitamina D2, são uma boa fonte de vitamina D. Além disso descobrimos que consumir cogumelos que contenham vitamina D2 foi tão eficaz a aumentar e manter um estatuto de vitamina D em adultos saudáveis como tomar um suplemento que contenha vitamina D2 ou D3. A observação de que alguns cogumelos quando expostos à radiação UVB também produzem vitamina D3 e D4 pode também prover ao consumidor duas formas adicionais desta vitamina”.

Shitake

Shitake

Os investigadores também foram capazes de determinar como os cogumelos produzem vitamina D e descobriram que o processo é similar ao que ocorre na pele humana quando exposta ao sol. Observaram também que os cogumelos são capazes de produzir vitamina D3 e D4 além da D2. De acordo com estes cientistas estes estudos mostram que os cogumelos são uma boa fonte natural de vitamina D facilmente encontrada em locais de venda comuns.

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Chanterelle

Os cogumelos são um dos poucos alimentos onde o precursor da vitamina D ocorre naturalmente. Enquanto no caso dos seres humanos o colesterol presente na pele é convertido em vitamina D através da ação dos raios UVB, no caso dos cogumelos é a presença de ergosterol que permite essa conversão. Embora todos os cogumelos contenham vitamina D, a concentração torna-se muito superior quando se aplica uma exposição natural ou artificial a radiação ultravioleta durante a produção ou recolha dos cogumelos. Uma exposição de apenas 5 minutos pode ser suficiente para aumentar esses níveis. Alguns desses cogumelos expostos a radiação UVB podem prover cerca de 400 UI de vitamina D por porção (cerca de 4 a 5 cogumelos brancos ou marrons, ou 1 portobelo). De acordo com alguns estudos realizados, os cogumelos não expostos a radiação UV com maior concentração de vitamina D parecem ser os chanterelle e morel por crescerem e serem recolhidos em estado selvagem.

Morel

Morel

As propriedades anticancerígenas e quimiopreventivas dos cogumelos não se esgotam enquanto fonte de vitamina D. Estes fungos contêm uma série de substâncias com inúmeros benefícios:

  • Imunidade: estudos mostram que os cogumelos têm propriedades antitumorais, antivirais e antibacterianas. Uma das possíveis explicações para isso passa pela sua capacidade de estimular as funções das células do sistema imunitário. Um estudo em modelo animal mostrou que o consumo de cogumelos brancos em modelo animal aumentou muito a atividade das células NK (natural killers), responsáveis por detetar células que estejam infetadas por um vírus ou danificadas e destruí-las. Promovem igualmente a produção e maturação de células dendríticas no organismo potenciando a função de apresentar antigénios, o que pode ser interessante também quando se está a fazer tratamento com células dendríticas. Os cogumelos são igualmente ricos num tipo especial de polissacarídeos, os β-glucanos. Estas moléculas têm propriedades imunomoduladoras com grande potencial na quimioprevenção do cancro
  • Angiogénese: Alguns estudos mostram propriedades antiangiogénicas nos cogumelos impedindo ou dificultando o aparecimento e crescimento das células de cancro, uma vez que estas dependem do crescimento de vasos sanguíneos que sustentem as suas necessidades energéticas.
  • Aromatase: os cogumelos contêm compostos chamados “inibidores de aromatase”. A aromatase é uma enzima que produz estrogénio e é responsável pela regulação dos seus níveis no organismo. Dessa forma, o consumo de cogumelos permite ter uma ação benéfica na prevenção do cancro da mama e de outros dependentes desta hormona. Os cogumelos que apresentam uma atividade antiaromatase mais elevada parecem ser os cogumelos-botão, crimini, portobello reishi e maitake; seguidos de shiitake, chanterelle e cogumelo-botão baby.

Especificamente no caso do cancro da mama o consumo de cogumelos parece estar associado a uma diminuição significativa de risco tanto em fase de pré-menopausa como de pós-menopausa. Um estudo revelou que as mulheres que comem, pelo menos o equivalente a um cogumelo pequeno por dia apresentavam uma diminuição de risco de cancro da mama em 64%. Quando combinavam cogumelos com o consumo de chá verde a percentagem de diminuição de risco aumentava para os 89% nas mulheres em fase pré-menopausa e 82% nas mulheres em fase pós-menopausa. Nos cancros colo-retal e do estômago observaram-se efeitos semelhantes.

White-Button-NFPOutras propriedades dos cogumelos:

  • Os cogumelos são uma boa fonte de vitaminas B, incluindo a riboflavina, niacina e ácido pantoténico:
    • O ácido pantoténico (B5) ajuda na produção de hormonas e tem um papel importante no sistema nervoso.
    • A riboflavina (B2) ajuda a manter os glóbulos vermelhos saudáveis.
    • A niacina (B3) promove uma pele saudável e contribui para o bom funcionamento dos sistemas digestivo e nervoso.

     

  • Os cogumelos são também uma fonte importante de minerais:
    • O selénio é um mineral que com efeitos antioxidantes protegendo as células de danos que poderiam levar a doenças como o cancro. Os humanos precisam de selénio para a função de várias enzimas conhecidas como selenoproteínas. De acordo com o relatório da WCRF/AICR existem evidências suficientes para considerar que alimentos ricos em selénio provavelmente diminuem o risco de cancro da próstata. Uma meta-análise de 20 estudos epidemiológicos sugere que níveis baixos de selénio estão associados a um maior risco de cancro da próstata.
    • O ergotioneina é um aminoácido que funciona como um antioxidante.
    • O cobrer ajuda na produção de nvos glóbulos vermelhos. É também importante para a saúde dos ossos e dos nervos.
    • O potássio ajuda a manter o equilíbrio dos fluidos e dos minerais, contribuindo assim no controlo da pressão sanguínea.
    • Os beta-glucanos são polissacarídeos que têm uma ação estimulante do sistema imunitário, contribuem para a resistência às alergias e poderão participar em processos relacionados com o metabolismo das gorduras e dos açúcares. Os beta-glucanos contidos em cogumelos como os shitake ou os cogumelos-ostra são considerados os mais benéficos.

Atenção: Como precaução os cogumelos não deverão ser consumidos crus, uma vez que têm na sua composição agaritina, a qual é provavelmente tóxica. Ao serem cozinhados esta substância degrada-se.

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Referências:

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https://circres.ahajournals.org/content/87/3/214.abstract?ijkey=b450f4015ca42afdd887aa5469804a33163ce3f3&keytype2=tf_ipsecsha

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