A dieta ocidental é caracterizada por um padrão alimentar com excesso de alguns nutrientes (gordura, açúcar, sal, proteína animal) e carência de outros fundamentais para a prevenção de doenças crónicas, tais como alguns minerais, vitaminas, fitoquímicos e fibra.

O consumo de alimentos processados e ultraprocessados, comuns neste tipo de padrão alimentar, está cada vez mais a aumentar em muitos países. Na Europa, mais de metade das calorias ingeridas diariamente provêm de alimentos ultraprocessados, chegando mesmo a 79% das calorias diárias em países como a Alemanha . Este produtos, depois de passarem por vários processos físicos, biológicos e/ou químicos, são concebidos para serem microbiologicamente seguros, convenientes, muito palatáveis e económicos .

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O estudo de potenciais efeitos na saúde de alimentos ultraprocessados é um campo de investigação recente, facilitado pelo desenvolvimento da classificação NOVA de produtos de acordo com o seu grau de processamento. Os alimentos ultraprocessados são produzidos a partir de fontes baratas e industriais de calorias e nutrientes, com aditivos adicionados. São por isso alimentos densos energeticamente, ricos em gorduras não saudáveis, amidos refinados, açúcares livres e sal, além e serem pobres em fibra e micronutrientes .

De acordo com a classificação NOVA , os alimentos que ingerimos podem pertencer a um dos seguintes grupos:

 

Image result for vegetablesGrupo 1 (alimentos não-processados ou minimamente processados):

Alimentos não-processados são as partes comestíveis das plantas (sementes, frutos, folhas, caules e raízes) ou de animais (músculo, ovos, leite) e também de fungos, algas e água, depois de separados da natureza. Os alimentos minimamente processados são alimentos naturais alterados por processos como a remoção de partes não comestíveis ou indesejadas, secos, esmagados, picados, fraccionados, filtrados, pasteurizados, refrigerados, congelados, colocados em recipientes ou fermentados não-alcoólicos. Nenhum destes processos adiciona sal, açúcar, óleos ou gorduras ao alimento original.

 

Image result for saltGrupo 2 (ingredientes culinários processados):

Substâncias obtidas diretamente a partir de alimentos do grupo 1 ou da natureza por processos como pressão, refinagem e moagem. Estas substâncias são geralmente utilizadas em casa ou restaurantes para preparar, temperar e cozinhas alimentos do grupo 1. Exemplos: sal, açúcar e óleos.

 

Image result for feijão em frascoGrupo 3 (alimentos processados):

Produtos simples que resultam da adição de açúcar, óleo ou sal a alimentos do grupo 1. A maior parte dos alimentos processados têm 2 ou 3 ingredientes. Os processos incluem vários métodos de preservação e confeção. O principal objetivo dos alimentos processados é aumentar a durabilidade de alimentos do grupo 1 e modificar as suas qualidades sensoriais. Exemplos: vegetais, frutos ou leguminosas em lata ou frasco, frutos secos açucarados ou com sal, carnes salgadas, curadas ou fumadas. Estes alimentos poderão ter aditivos para conservar as suas propriedades originais.

 

Image result for doughnutGrupo 4 (alimentos ultraprocessados):

Produtos industriais geralmente com 5 ou mais ingredientes. Esses ingredientes frequentemente incluem aqueles usados nos alimentos processado como açúcar, óleos, gorduras, sal e conservantes. Os ingredientes utilizados apenas nos ultraprocessados incluem produtos não utilizados nas preparações culinárias e aditivos cuja função é imitar qualidades sensoriais dos alimentos do grupo 1. Alguns dos aditivos que se encontram apenas nestes produtos incluem corantes, estabilizadores, intensificadores de sabor, açúcares artificiais, estabilizadores, emulsionantes, entre outros. Os alimentos do grupo 1 são uma parcela pequena ou mesmo ausente dos alimentos do grupo 4. Exemplos: refrigerantes, gelado, chocolate, doces, pão embalado, margarinas, biscoitos, cereais de pequeno-almoço, alimentos pré-confecionados, hamburguers, entre outros.

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Um estudo prospetivo recente que acompanhou 104980 participantes, procurou saber se existe uma associação entre o consumo de alimentos ultraprocessados (de acordo com a classificação NOVA) e a incidência de cancro . Alguns dos resultados do estudo:

 

– Por cada 10% de incremento na ingestão de alimentos ultraprocessados, houve um aumento de 12% no risco de cancro geral e um aumento de 11% no risco de cancro da mama.

O estudo concluiu que o consumo de alimentos ultraprocessados poderá estar associado a um aumento do risco de cancro geral e cancro da mama.

Incidência cumulativa de cancro de acordo com os quartis relativos à proporção de alimentos ultraprocessados na dieta.

Estes resultados deverão ser confirmados por outros estudos prospetivos de grandes dimensões. No entanto, o aumento acelerado do consumo de alimentos ultraprocessados poderá contribuir para um aumento da carga de cancro e outras doenças não-transmissíveis. Políticas que regulem estes produtos poderão contribuir para a prevenção de alguns cancros.

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Algumas das hipóteses que poderão explicar o efeito dos alimentos ultraprocessados no risco de cancro:

Baixa qualidade nutricional de dietas ricas em alimentos ultraprocessados, os quais são muito ricos em gordura, gordura saturada, açúcar adicionado e sal e pobres em fibra e micronutrientes. O excesso de calorias destes alimentos contribui também para o aumento de peso, o qual está associado a um risco superior de cancro. No entanto, neste estudo mesmo quando a variável do peso foi controlada, continuou a existir uma relação com o risco de cancro.

Presença de aditivos nos alimentos ultraprocessados, os quais poderão ter efeitos negativos na saúde, em especial levando em consideração o efeito cumulativo de vários aditivos diferentes nos alimentos. Os nitritos, por exemplo, utilizados nas carnes processadas, poderão contribuir para o risco de cancro colorretal.

Formação de contaminantes pela ação do calor, tais como aminas heterocíclicas e acrilamida.

A presença de desreguladores endócrinos nas embalagens destes produtos, tal como o BPA.

A fórmula para uma dieta saudável é e continua a ser uma dieta de base vegetal, rica em vegetais, frutos, leguminosas, cereais integrais, frutos secos e sementes, todos minimamente processados.

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Referências:

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Monteiro CA, Cannon G, Levy R, Moubarac JC, Jaime P, Martins AP, et al. NOVA. The star shines bright. World Nutrition [Internet]. 2016 Jan 7 [cited 2018 Feb 17];7(1–3):28–38. Available from: https://worldnutritionjournal.org/index.php/wn/article/view/5
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