Os legumes crucíferos (assim chamados porque a sua flor tem a forma de cruz), são os únicos vegetais que contêm um importante família de substâncias com inúmeros benefícios para a saúde. Trata-se dos glucosinolatos, fitoquímicos cuja composição química contém um átomo de enxofre. Estas substâncias dão origem a isotiocianatos através da reação química com a mirosinase, uma enzima que se encontra separada na célula vegetal. Para que essa reação se dê é necessário romper os compartimentos nos quais se encontram o que acontece através da mastigação, esmagamento ou corte. Só assim se podem obeter os benefícios anticancerígenos dessas moléculas. Mastigar vegetais crucíferos crus aumenta o contacto dos glucosinolatos com a mirosinase aumentando assim a quantidade de isotiocianatos assimilados. Os legumes crucíferos contêm uma variedade grande de glucosinolatos, cada um dando origem a um isotiocianato diferente quando hidrolizado (quebrado através da ação da mirosinase). Por exemplo: os brócolos são uma boa fonte de glucorafanino, o precursor do sulforafano. Outro desses glucosinolatos, a gluconasturtina, presente em legumes como o agrião ou a couve chinesa, dá origem ao fenetil isotiocianato (PEITC). Em estudos de laboratório o PEITC mostrou ser capaz de proteger de cancros provocados pela exposição a substâncias tóxicas, nomeadamente nos cancros do esófago, do cólon e do pulmão. Além disso esta molécula parece ser também capaz de agir diretamente sobre as células de cancro. O PEITC parece ser um dos isotiocianatos mais tóxicos para as células cancerígenas forçando-as a morrer através do mecanismo de morte programada da célula, a apoptose.

 

As propriedades quimiopreventivas desta substância e a importância dos alimentos vegetais, únicas fontes dos importantes fitoquímicos, saem reforçadas pelos resultados de um estudo recente no qual se avaliou em modelo animal a sua eficácia no cancro da mama. A equipa de investigação do Instituto de Cancro da Universidade de Pittsburg, liderada pelo investigador Shivendra V. Singh, colocou ratos devidamente preparados (atenção: não podemos de deixar aqui uma nota crítica na utilização de animais para pesquisa médica. Infelizmente ainda parece ser uma das vias de investigação) em duas dietas: uma de controlo e outra rica em PEITC durante 29 semanas. Os animais que faziam parte do grupo experimental tiveram uma redução de 56,3% nas lesões do carcinoma mamário. Os mecanismos através dos quais a apoptose é induzida por esta substância ainda não são inteiramente compreendidos. Além disso, os mesmo efeitos quimiopreventivos deste estudo mostram resultados idênticos nos cancros do cólon, intestino e próstata. Estudos anteriores a este mostraram que um contributo acrescido de agrião no regime alimentar estava associado a uma siminuição das formas tóxicas da NNK, uma nitrosamina cancerígena do tabaco.

 

Referências:

https://jnci.oxfordjournals.org/content/early/2012/08/01/jnci.djs321

https://www.sciencedaily.com/releases/2012/08/120802183942.htm

https://lpi.oregonstate.edu/infocenter/phytochemicals/isothio/