Especialistas criam uma “Equipa de Sonho” que irá desenvolver novos tratamentos de imunoterapia para cancros infantis

As imunoterapias estão a evoluir rapidamenteAs previsões apontam para que nos próximos anos cada vez mais tratamentos deste tipo estejam disponíveis ao público em geral. Os progressos técnicos e científicos associados a um interesse maior por parte dos financiadores têm permitido esses avanços. Uma das áreas que recentemente está a merecer toda a atenção da comunidade científica e médica é a dos cancros infantis e do potencial benefício que as imunoterapias poderão trazer a estes casos. Pela natureza mais escassa em quantidade destes cancros quando comparados com os dos adultos, raramente novas terapias são desenvolvidas para as crianças. Só nos EUA em 2013 serão diagnosticados cerca de 11630 casos de cancro em crianças quando nos adultos prevê-se cerca de 1,6 milhões de casos.

Tal como assinala Crystal L. Mackall, M.D., diretora do Pediatric Oncology Branch do National Cancer Institute, embora os cancros infantis representem uma das áreas de maior sucesso no tratamento oncológico, com cerca de 75% de sucesso em todos os cancros, esta doença continua a ser a causa principal de morte nas crianças. Além disso, não só o sofrimento associado aos tratamentos convencionais é muito elevado como os seus efeitos colaterais a longo prazo são muito significativos. Por outro lado, o sucesso em pacientes pediátricos de alto risco continua muito insuficiente. Mackall lembra-nos que uma das principais preocupações com os tratamentos convencionais em crianças são os custos para a saúde a longo prazo derivados dos efeitos colaterais, tal como o aparecimento de um novo cancro devido à toxicidade do tratamento inicial. Dois terços dos sobreviventes têm efeitos colaterais subsequentes, com cerca de um terço de casos em que os efeitos colaterais são severos, mesmo contacto com a taxa de 75% de sucesso de cura (sobrevivência a 5 anos).

Para dar resposta a estes desafios, investigadores têm vindo a desenvolver novas imunoterapias, aplicadas individualmente ou em combinação com quimioterapia, radiação e/ou cirurgia. Uma das utilizações destes tratamentos, na forma de vacinas, trata-se de aplicação enquanto tratamento adjuvante de forma a evitar recidivas e/ou no caso de cancros mais agressivos. A vacina de células dendríticas enquadra-se neste domínio, estudada em locais como o Pediatric Oncology Branch do National Cancer InstituteUm dos estudos clínicos em curso avalia a eficácia deste tratamento em crianças com sarcomas de alto risco. Para tal, os pacientes deslocam-se aos centros do National Institutes of Health (EUA), onde são recolhidos linfócitos seguido de uma vacina de células dendríticas juntamente com uma terapia para a reconstituição dos seus sistema imunológicos. Esta terapia tem mostrado um impacto dramático na reconstituição imunológica com valores elevados de CD4 (um tipo de glóbulo branco importante no combate às infeções), além dos resultados preliminares sugerirem um melhor controlo a longo prazo da doença.

Recentemente um tratamento experimental desenvolvido no The Children’s Hospital of Philadelphia, foi capaz de eliminar uma recidiva de leucemia numa criança de 7 anos, Emily Whitehead, a qual continua em remissão completa após um ano depois de receber o inovador tratamento.

Com base nestes sinais positivos foi criada uma “Dream Team” com a missão exclusiva de criar novos tratamentos para os cancros pediátricos mais difíceis. A equipa será liderada por John M. Maris, MD, diretor do Center for Childhood Cancer Research no The Children’s Hospital of Philadelphia, e professor de Pediatria no Perelman School of Medicine na University of Pennsylvania.  Crystal L. Mackall, MD, diretora do Pediatric Oncology Branch do National Cancer Institute (NCI) será a co-responsável por esta equipa. O financiamento de cerca de 14,5 milhões de dólares será garantido pela Stand Up to Cancer (SU2C) e pela St. Baldrick’s Foundation.

O título do projeto de investigação, “Immunogenomics to Create New Therapies for High-Risk Childhood Cancers” (Imunogenómica para Criar Novas Terapias para Cancros Infantis de Alto Risco), reflete a fusão de duas poderosas disciplinas que têm sido desenvolvidos de forma independente: imunoterapias e genómica. O objetivo passa por de forma rápida converter investigação básica promissora em tratamentos orientados que melhorem a taxa de cura nos cancros infantis. De acordo com John Maris “a motivação para a criação deste projeto colaborativo de investigação deve-se à constatação que são necessárias estratégias completamente novas se queremos ter terapias curativas para todos os cancros infantis. A nossa Equipa espera desenvolver de forma rápida tratamentos mais eficazes e precisos baseados nas características únicas do tumor de cada criança, focalizando as alterações genéticas que tornam as células de cancro diferentes do resto do organismo”. A imunoterapia concentra-se em desenvolver tratamentos que estimulam os sistema imunitário do próprio organismo a combater a doença. A genômica, o campo que analisa o conjunto e os detalhes do código genético no ADN, revela alvos potenciais para os tratamentos de doenças.

Maris acrescenta que “muito poucas terapias novas forma desenvolvidas para os cancros pediátricos nos últimos 20 anos“. O investigador acrescenta que além disso as terapias atuais para estes cancros têm com frequência efeitos colaterais severos que diminuem muito a qualidade de vida dos sobreviventes que entram na idade adulta. Por esse motivo existe a necessidade premente para uma nova classe de tratamentos que não só aumentam a sobrevivência como a qualidade de vida. John Maris afirma que os investigadores que fazem parte da nova “Dream Team” têm uma profunda experiência nos cancros pediátricos mais letais e irão conjugar as suas experiência e compromissos num esforço constante no sentido de melhorar as taxas de cura. Esta “Equipa de Sonho” reunirá os esforços e o talento de vários colaboradores representando 7 instituições: CHOPNCI, o Baylor College of MedicineSeattle Children’s Hospital, a University of British Columbia, o Hospital for Sick Children in Toronto e a University of Wisconsin. 

John Maris reúne na sua equipa proeminentes especialistas internacionais tais como Stephan A. Grupp, MD, PhD, e Tom Curran, PhD, os quais irão liderar os programas de investigação baseados no CHOP. Foi Grupp quem desenvolveu a primeira imunoterapia altamente eficaz para o cancro infantil em colaboração com Carl H. June, MD, da Perelman School of Medicine na University of Pennsylvania. O caso mais conhecido resultante desse trabalho é o de Emily Whitehead. Nas palavras de Grupp, “Embora este seja um resultado preliminar, é promissor de um avanço significativo no combate a este tipo de leucemia infantil de alto risco. O nosso objetivo passa por replicar este sucesso no tratamento de outros cancros pediátricos“.

Dream Team vai concentrar-se nos 4 tipos de cancro infantil mais mortais: tumores cerebrais malignosleucemias de alto risco (como aquele que a Emily teve, a leucemia linfoblástica aguda), neuroblastomas (que afetam o sistema nervoso periférico) e sarcomas (tumores do osso e outros tecidos). De acordo com Maris, descobertas recentes em genômica mostraram que os cancros pediátricos são diferentes dos cancros em adultos. Os cancros infantis mais não surgem com frequência por mutações recurrentes que podem ser contrariadas com fármacos de moléculas pequenas. A Dream Team irá explorar as características únicas de moléculas na superfície das células de cancro nas crianças, as quais não estão presentes nas células normais, fornecendo assim alvos para tratamentos que utilizam agentes modificados que trabalham através do sistema imunitário.

Ao transformar este conhecimento científico em tratamentos, a Dream Team fará uma abordagem em três tempos:

  1. Em primeiro lugar os investigadores irão identificar moléculas na superfície das células que sejam potenciais alvos em cancros infantis de alto risco.
  2. De seguida desenvolver proteínas baseadas em imunoterapias que possam atacar essas moléculas.
  3. Por último darão início a estudos clínicos multi-institucionais para avaliar a eficácia destes tratamentos em crianças.

John Maris conclui dizendo que “o sucesso deste programa será em última instância avaliado em função do número de vidas salvas pelos nossos esforços“. Vivemos tempos promissores onde um cenário de tratamentos mais eficazes e com efeitos colaterais menos tóxicos começa a poder ser vislumbrado. As imunoterapias têm um lugar garantido nesse futuro onde o cancro não só se trata como também se evitaCitando o National Cancer Institute, “qualquer que sejam os próximos passos nas imunoterapias, é claro que os avanços clínicos recentes são verdadeiramente promissores e serão integrados em muitas modalidades de tratamento ao longo dos próximos anos. De forma significativa, esses avanços têm também o potencial de dar a conhecer aos clínicos melhores formas de tratar cancros em adultos”.

A pergunta impõe-se: será Portugal e os seus centros de investigação capaz de acompanhar esta tendência dos tempos atuais?

Referências:

https://www.chop.edu/news/chop-oncologist-leads-first-pediatric-dream-team.html

https://www.chop.edu/service/oncology/home.html

https://www.aacr.org/home/public–media/aacr-press-releases.aspx?d=3067

https://www.cancer.gov/newscenter/newsfromnci/2013/PediatricImmunotherapy

https://www.chop.edu/service/oncology/home.html

https://www.chop.edu/service/oncology/pediatric-cancer-research/pediatric-cancer-dream-team.html

https://www.stbaldricks.org/blog/post/dream-team-announced

https://www.stbaldricks.org/blog/post/immunogenomics-to-create-new-therapies-for-high-risk-childhood-cancers/

https://www.stbaldricks.org/

https://www.standup2cancer.org/

https://www.standup2cancer.org/pediatrics

https://www.standup2cancer.org/dream_teams/view/su2c_st_baldricks_pediatric_cancer_dream_team

https://pediatrics.cancer.gov/index.asp

https://fmp-8.cit.nih.gov/pob/clinical_trials/index1.php

https://bethesdatrials.cancer.gov/clinical-research/search_detail.aspx?ProtocolID=NCI-07-C-0206