Carnes bem passadas podem aumentar risco de cancro da próstata
Se bem conhecemos o código das estradas, todos sabemos que vermelho é sinónimo de parar. Quando lidamos com nutrição e fatores de risco associados ao cancro, a carne vermelha é definitivamente um elemento a evitar. Segundo as evidências disponíveis, no atual estado de conhecimento, o consumo de carnes vermelhas e processadas está de forma convincente relacionado com um aumento de risco de cancro colo-retal. De facto, segundo a estimativa do maior relatório desenvolvido sobre a relação entre nutrição e cancro, caso se reduzisse o consumo de carnes vermelhas e processadas e se consumisse mais alimentos ricos em fibras, cerca de 45% de casos de cancro colo-retal poderiam ser evitados. As evidências existentes tornaram possível ser consensual entre várias instituições de saúde pública, a recomendação de se evitar o consumo de carnes vermelhas e em particular as processadas.
Para sublinhar este facto, em Março deste ano foram publicados os resultados de um importante estudo desenvolvido pela Harvard. Os investigadores deste estudo, incluindo o autor e professor Frank Hu, observaram mais de 37000 homens participantes do Healths Professionals Follow-up Study por cerca de 22 anos, e mais de 83000 mulheres, participantes do Nurses’ Health Study por cerca de 28 anos. Ficou estabelecida uma relação entre o consumo regular de carne vermelha e processada e um aumento de risco de morte precoce. Um porção diária de carne vermelha (do tamanho de um baralho de cartas) está associado a um aumento de 13% na mortalidade e uma porção semelhante de carnes processadas (um hot-dog ou duas fatias de bacon) está associado a um aumento de 20% na mortalidade. Especificamente em relação ao cancro, o consumo destes alimentos está associado a um aumento de 10 e 16% correspondentemente. Pensa-se que as causas para esta relação estejam relacionadas com alguns ingredientes presentes nestes alimentos, tais como: o ferro heme, a gordura saturada, o sódio, nitritos e as substâncias carcinogénicas formadas durante a preparação. Quando as carnes dos músculos destes animais é exposta a temperaturas altas, formam-se dois tipos de compostos altamente cancerígenos chamados aminas heterocíclicas (HCA) e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAH). Isto resulta do contacto da carne (ou do peixe) com uma chama (como nos churrascos) ou superfícies muito aquecidas.
Um estudo recentemente publicado na revista Carcinogenesis estabeleceu uma relação entre o consumo regular de carnes cozinhadas a altas temperaturas e o risco de cancro da próstata. Os autores avaliaram cerca de 2000 participantes do estudo California Collaborative Prostate Cancer Study. O estudo não encontrou uma ligação entre o consumo de carne vermelha e processada e um aumento de risco de cancro da próstata. Mas os indivíduos que comeram a maior quantidade de carnes vermelhas cozinhadas a altas temperaturas e bem-passadas têm segundo os resultados do estudo, 30 a 40% mais probabilidades de desenvolver cancro da próstata quando comparados com aqueles que consomem a menor quantidade. Um aumento de risco foi também observado no consumo de aves quando cozinhadas em frigideira. O estudo conclui assim que as aminas heterocíclicas formadas quando se cozinha carne a altas temperaturas podem ter um papel importante na etiologia do cancro da próstata.
No que diz respeito à prevenção do cancro, não só importa o que se exclui da dieta, como o que se inclui. Sabemos que a maior parte das substâncias quimiopreventivas encontram-se nos alimentos de origem vegetal. Quando substituimos alimentos como as carnes vermelhas, que aumentam o risco de alguns cancros, por proteínas vegetais, ricas em nutrientes, fitoquímicos e fibra, obtemos assim um duplo benefício. O estudo da Harvard que avaliou o consumo de carnes vermelhas em relação à mortalidade, buscou perceber qual o benefício associado a diferentes fontes de proteína. quando se substitui uma porção de carne vermelha por outra mais saudável temos um risco inferior de morte precoce nos seguintes valores: 7% para o peixe, 14% para as aves, 10% para os laticínios magros, 10% para as leguminosas e 14% para os cereais integrais. Mas aquele que se destacou no estudo foram as oleaginosas estando associadas a uma diminuição de 19% de risco de morte precoce. Os investigadores estimam que 9,3% de mortes nos homens e 7,6% no final do estudo poderiam ter sido evitadas se os participantes tivessem consumido menos do que 0,5 porções diárias de carne vermelha. Estes resultados levam o investigador Frank Hu a concluir que “este estudo dá-nos a clara evidência que o consumo regular de carne vermelha, especialmente carnes processadas, contribui substancialmente para a morte precoce. Por outro lado, escolher fontes mais saudáveis de proteína em substituição da carne pode conferir benefícios para a saúde significativos reduzindo a mortalidade por doença crónica”. A mensagem tem sido clara e uniforme em todas as evidências: existem benefícios evidentes na substituição de produtos animais por produtos vegetais. É uma decisão benéfica para nós e para o planeta.
Referências:
www.dietandcancerreport.org/cup/current_progress/colorectal_cancer.php
https://www.dietandcancerreport.org/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22412075
https://www.channing.harvard.edu/nhs/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22822096
https://carcin.oxfordjournals.org/
https://www.natap.org/2012/newsUpdates/archinternmed.2012.174v1.pdf