“Precisamos de começar a perguntar-nos o que podemos fazer por nós. Nós podemos “empoderar-nos” (empower ourselves) e fazer as coisas que os médicos não podem fazer por nós, o que significa usar o conhecimento para tomar medidas.

O que nós comemos é na realidade a nossa quimioterapia 3 vezes por dia.”

Dr. William LiAngiogenesis Foundation, TED.

Workshop “Fazer da Cozinha uma Farmácia – o papel da alimentação na prevenção do cancro” em Lisboa. O Workshop pretende dar a conhecer o estado atual do conhecimento sobre o papel da alimentação na prevenção primária e secundária do cancro. Destina-se a todos os que queiram perceber de que forma podem utilizar os alimentos que compõem uma refeição como autênticos medicamentos. Todos os dias fazemos escolhas alimentares das quais dependem em grande medida a nossa saúde ou doença.

mandala prevenCom base no conhecimento que temos hoje, baseada nas mais recentes evidências, podemos com segurança afirmar que o que comemos contribui claramente para os índices tão elevados de cancro que temos nas nossas sociedades. Esta constatação traz uma boa notícia associada: se somos nós os responsáveis pelo problema, somos também responsáveis pela solução, ou seja, podemos (devemos?) utilizar o conhecimento disponível e fazer das nossas refeições um poderoso aliado na prevenção  desta doença.

Este consenso generalizado da relação entre a dieta e o risco de cancro baseado no crescente corpo de evidências científicas, emergiu inicialmente no início dos anos 80. Em 1982, o National Research Council nos EUA publicava um relatório onde concluía que “é abundantemente claro que a incidência de todos os cancros comuns nos humanos é determinado por vários fatores externos controláveis. Este é seguramente o facto mais reconfortante que advém da pesquisa sobre o cancro, porque significa que o cancro é, em larga medida, uma doença prevenível”.

Um ano antes, os autores de um estudo seminal concluem: “É altamente provável que os Estados Unidos terão eventualmente a opção de adotar uma dieta que reduza a incidência de cancro em aproximadamente um terço, e é absolutamente certo que outro terço poderia ser prevenido abolindo o tabagismo”. Estes estudos iriam lançar o percurso de investigação em torno da relação entre dieta e cancro, sendo que desde então as evidências acumulam-se, fortalecendo a ideia de que o cancro é essencialmente uma doença relacionada com o estilo de vida.

Os anos 90 seriam impulsionados pelo primeiro relatório da WCRF/AICR, no qual o painel afirmava que “está hoje estabelecido que o cancro é principalmente causado por fatores ambientais, dos quais os mais importantes são: o tabaco, a dieta e fatores relacionados com a dieta, incluindo a massa corporal e a atividade física; e exposição por motivos profissionais e outros”. Hoje este relatório vai na sua segunda edição, acrescentado novos dados e fatores de risco associados a cancros específicos e estimando uma média de 30 a 40% de cancros evitáveis através de uma dieta apropriada e exercício físico.

Tudo isto deverá ser convertido em medidas concretas, individuais e coletivas. Cada um de nós, perante estes factos, pode modificar os hábitos que em conjunto aumentam a probabilidade de vários cancros. A mensagem por detrás de todos estes factos é que depende inteiramente de nós alterarmos este cenário de doença epidémica generalizada. As escolhas que fazemos têm impacto profundo nas nossas saúdes e na sociedade em geral. Este impacto aliás, reflete-se igualmente nas despesas sociais com saúde pública que poderiam também ser evitadas caso cada um assumisse o seu compromisso de modificar os fatores de risco associados ao cancro.

O que podemos constatar é que ainda não existe uma sensibilização global junto das comunidades para o papel da alimentação na prevenção do cancro e de outras doenças. Ainda existe um certo desconhecimento por parte das pessoas e inclusive por parte dos profissionais de saúde do impacto que tem a dieta para o indivíduo. Nem sempre tem existido uma política de saúde pública que forneça aos cidadãos os instrumentos disponíveis para se defenderem e reduzirem as possibilidades de adoecerem com cancro. O nosso desejo é que ao criarmos estas iniciativas possamos ajudar na divulgação do conhecimento do cancro e das formas disponíveis de prevenção primária e secundária desta doença.

Informações:

Formadores: Gabriel Mateus (teórica) e Isaura Faria (prática)

Data: 19 e 20 de Abril (dia 19 parte teórica, dia 20 parte prática)

Duração: das 15h às 20h.

Investimento: 65€ (inclui workbook e degustação de todas as receitas confeccionadas no 2º dia)

(não é possível participar em apenas um dos dias) 

Local: Centro Cultural Pde. Alberto Guimarães – Rua Lagares d’El Rei, 4 – Lisboa (junto à Av. EUA)

Inscrições* e Informações: cursovegetariano@gmail.com / 913 325 060 / na secretaria do centro paroquial 

* Vagas Limitadas. A inscrição só fica confirmada após sinalização de mínimo 50% para NIB a indicar 

Tópicos a serem desenvolvidos:

  • Factos e Números sobre o Cancro.
  • Recomendações oficiais sobre Cancro e Alimentação.
  • Carcinogénese – mecanismos biológicos do cancro.
  • Alicamentos – principais Alimentos Anti-Cancro.
  • Confeção de uma refeição baseada nas suas propriedades anticancerígenas.

 

Uma parceria:

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Fazer da Cozinha uma Farmácia

O Papel da Alimentação na Prevenção do Cancro

“Conhece o teu inimigo e conhece-te a ti próprio e assim poderás combater 100 batalhas sem desastre.”

Sun Tzu, A Arte da Guerra

 

Segundo os dados oficiais, um terço de todos os cancros são causados por questões relacionadas com a alimentação e exercício físico.  Alimentarmos o nosso corpo representa uma atividade da qual uma boa qualidade de vida depende. Todos os dias ingerimos alimentos que garantem um bom funcionamento das principais funções do organismo. De facto, cada alimento representa um composto de substâncias químicas que interferem com o nosso metabolismo tendo uma função central na promoção ou prevenção das doenças. Longe de representar apenas um aporte calórico destinado a dar energia e tirar a fome, os alimentos são e devem ser entendidos como medicamentos com propriedades muito específicas, desenvolvidas ao longo de milhares de anos pelos processos naturais da evolução biológica. Esta mudança de paradigma urge numa sociedade onde a alimentação deixou de ser vista como um instrumento terapêutico central da nossa relação com a doença, e onde se verificam números alarmantes na incidência de cancros e doenças degenerativas. Neste momento, esta doença concorre aceleradamente para aquilo que poderia ser descrito como uma epidemia. Os números oficiais dizem-nos que 1 em cada 3 mulheres e 1 em cada 2 homens terá cancro até ao final da sua vida. Recentes estudos epidemiológicos mostram claramente a relação que existe entre a incidência de certos tipos de cancro e os hábitos de alimentação característicos de cada cultura. A dieta ocidental pode mesmo ser hoje considerada a dieta que reúne os maiores factores de risco que são possíveis de combinar numa só refeição.

 

“Depois de tudo o que aprendi ao longo destes anos de investigação, se me pedissem hoje para elaborar uma dieta que promovesse ao máximo o desenvolvimento do cancro, eu não teria nada a acrescentar à nossa alimentação atual!”

Dr. Richard Beliveau

 

Para este desvio de um padrão de qualidade alimentar contribuíram as alterações que forma introduzidas com a industrialização dos alimentos nos anos 50 assim como a introdução em massa de produtos agro-tóxicos presentes na produção de vegetais. Assistimos assim a uma combinação explosiva de factores ambientais e alimentares que não assistem o ser humano na sua procura de melhor qualidade de vida e saúde. Na realidade, assistimos nestes últimos 60 anos a uma experiência global cuja extensão dos danos nas nossas saúdes só agora poderemos realmente compreender. Trata-se pois de uma questão de responsabilidade não só individual mas também social e global reeducarmo-nos no sentido de uma alimentação mais consciente, respeitando uma das premissas basilares do pai da Medicina Ocidental, Hipócrates: “Que o teu Alimento seja o teu Medicamento”.

Os últimos 30 anos têm assistido a um crescente interesse por parte das pesquisas sobre o cancro em entender o real contributo que a alimentação tem na prevenção e tratamento da doença. Esta ligação está cada vez mais estabelecida, sendo que quase todas as organizações relacionadas com o cancro já adotaram nas novas recomendações estes dados. De facto, das suas recomendações faz parte uma dieta predominantemente baseada em alimentos de origem vegetal (em inglês “plant-based diet”), por serem estes os que contêm em maior concentração as substâncias conhecidas com propriedades anticancerígenas. Poderíamos dizer que nos alimentos de origem vegetal encontramos uma autêntica farmácia de moléculas e princípios ativos cuja força mora na capacidade que temos em conhecê-las e combiná-las, orientando a nossa alimentação no sentido da saúde. Existe hoje um enorme corpo científico de evidências do papel destes alimentos na prevenção ou promoção do cancro onde especialistas de todo o mundo se reúnem para com base nelas elaborarem um plano de intervenção a nível de políticas de saúde pública. Desse esforço conjunto, desenvolvido por um painel de especialistas internacionais que criaram o mais abrangente relatório acerca do papel da alimentação na prevenção do cancro, foram resumidas algumas medidas preventivas que se fossem seguidas só por si poderiam evitar de 30 a 40% de todos os cancros (3 a 4 milhões de casos de cancro anuais em todo o mundo):

  • Seja o mais magro possível dentro dos níveis normais de peso.
  • Seja fisicamente ativo numa base diária.
  • Limite o consumo de alimentos muito calóricos e evite bebidas açucaradas.
  • Alimente-se maioritariamente de alimentos de origem vegetal.
  • Limita o consumo de carnes vermelhas e evite carnes processadas.
  • Limita o consumo de bebidas alcoólicas.
  • Limita o consumo de sal e de cereais e leguminosas com sinais de bolor.
  • Busque obter as suas necessidades nutricionais através dos alimentos.
  • Amamente os seus filhos.
  • Os sobreviventes de cancro deverão seguir as mesmas recomendações para a prevenção.

Estas recomendações são hoje partilhadas pelas principais instituições o organizações oficiais orientados para a pesquisa e divulgação do cancro. Assumindo que os alimentos de origem vegetal representam a melhor fonte de substâncias com reconhecidas propriedades anticancerígenas, propomos-nos neste workshop conhecê-los melhor, o modo como atuam e interferem nos mecanismos biológicos do cancro e sugestões saborosas de os preparar numa autêntica refeição anti-cancro. Façamos então da nossa cozinha uma verdadeira farmácia, aliando estes poderosos alicamentos a uma experiência de texturas e sabores igualmente prazerosa.