Se Moisés hoje subisse de novo ao Sinai, bem poderia receber um 11º Mandamento: “Não desistirás de procurar uma cura para o cancro”. E se não existe mais o Profeta, existem pelo menos outros Sinais que nos inspiram de boas-novas. Foram afinal investigadores do Centro Médico de Cedars-Sinai que nos últimos dias deram a conhecer os primeiros resultados de um estudo clínico de Fase I com uma vacina de células dendríticas para o tratamento de cancro do cérebro. A média de sobrevivência com este tratamento foi de 38,4 meses, um período significativamente maior do que os típicos 14,6 meses de sobrevivência de pacientes diagnosticados com glioblastoma tratados com o tratamento convencional (radiação e quimioterapia). A média de sobrevivência sem progresso da doença (sem recidiva) foi de 16,9 meses, contrastando com os 6,9 meses do tratamento padrão.

O estudo incluiu 16 pacientes recentemente diagnosticados. No acompanhamento posterior, 6 pacientes (38%), 49 a 66 meses após o tratamento, não mostraram evidências de recidiva e mantiveram-se livres da doença. “A vacina destina-s a alertar o sistema imunológico para a existência de células de cancro e ativar uma resposta que foque a destruição do tumor. Também focamos células que acreditamos serem geradoras e perpetuadoras do cancro” diz Keith L. Black, professor em Cerars-Sinai, diretor do Cochran Brain Tumor Center e diretor do Maxine Dunitz Neurosurgical Institute, onde a vacina foi desenvolvida e estudada.

A última versão da vacina (ICT-107) tem como alvo seis antigénios envolvidos no desenvolvimento das células de glioblastoma. Todos os pacientes têm pelo menos 3 dos antigénios, sendo que 74% dos tumores têm todos os seis. Os investigadores também encontraram evidências que a vacina ataca algumas células estaminais do cancro do cérebro, consideradas a fonte original das células de cancro. Estas células parecem permitir aos tumores resistirem à radiação e à quimioterapia e até regenerar após o tratamento. Acredita-se que destruir essas células possa aumentar as possibilidades de destruir o tumor e prevenir a sua recidiva.

O primeiro estudo clínico de Fase I com uma vacina de células dendríticas desenvolvido em Cedars-Sinai aconteceu em Maio de 1998. Com os resultados observados neste último estudo utilizando a última versão da vacina, o estudo progrediu para um ensaio clínico de Fase II. As admissões para este estudo deverão estar completadas em Setembro de 2012.

As células dendríticas são as células apresentadoras de antigénio mais poderosas do sistema imunológico. São as responsáveis por ajudar o sistema imunológico a reconhecer invasores. Para o tratamento são produzidas a partir dos glóbulos brancos retirados a partir de uma coleta de sangue do paciente. Em laboratório, as células são cultivadas juntamente com péptidos dos 6 antigénios, o que representa treinar as células dendríticas a reconhecer os antigénios do tumor e mobilizar uma resposta dos sistema imunológica para destruir essas células. Após essa cultura em laboratório as células são reintroduzidas no organismo do paciente.

A esperança é que nenhum obstáculo de ordem formal, financeira ou de outra natureza, se oponha ao progresso de um tratamento que começa a gerar resultados cada vez mais claros da sua eficácia. Uma das claras vantagens é a sua inexistente toxicidade quando comparado com os tratamentos convencionais, embora ainda apresente significativas limitações. Esperemos que em breve possamos cada vez mais optar por mais do que um tratamento, quiçá gravado assim em pedra na forma de um 12º Mandamento: “Não impedirás a escolha de tratamento ao cidadão”.

 

Referências:

https://www.springerlink.com/content/n0018574g9m4v587/

https://www.sciencedaily.com/releases/2012/08/120815093108.htm