Extrato de sementes de uva poderá ser eficaz no tratamento de cancro colo-retal (e outros)

O cancro colo-retal representa o terceiro tipo de cancro mais comum no mundo inteiro, embora exista uma incidência muito inferior em países menos desenvolvidos, aumenta muito com a industrialização e urbanização. Neste momento, devido ao progressivo desenvolvimento destes países, os casos estão a aumentar. Ainda assim, continua a ser relativamente incomum em África e grande parte da Ásia. É uma doença fatal em perto de metade dos casos, sendo a 4ª causa de morte mais comum de cancro. De uma maneira geral, de acordo com as evidências disponíveis, os especialistas consideram que a dieta tem um papel fundamental na prevenção e causa deste tipo de cancro. No atual estado de conhecimento, o consumo de carnes vermelhas e processadas está de forma convincente relacionado com um aumento de risco de cancro colo-retal. De acordo com a estimativa do maior relatório desenvolvido sobre a relação entre nutrição e cancro, caso se reduzisse o consumo de carnes vermelhas e processadas e se consumisse mais alimentos ricos em fibras, cerca de 45% de casos de cancro colo-retal poderiam ser evitados.

tratamento do cancro colo-retal é eficaz em cerca de 50% dos casos quando se encontra localizado. Uma vez que tenha metástases o seu tratamento torna-se muito mais difícil. Quanto mais avançado for o seu estágio mais complicado se torna e mais resistência aos tratamentos oferece. Isso significa que se torna necessário aumentar as doses de fármacos utilizados no sentido de procurar controlar a doença. Parece evidente e linear. No entanto, substâncias presentes no extrato de sementes de uva parecem querer contrariar essa evidência.

Um estudo recente da University of Colorado Cancer Center sugere que quanto mais avançado for um cancro colo-retal, mais o extrato (ESU) inibe o seu crescimento e sobrevivência, não afetando as células saudáveis. Um dos investigadores do estudo, Molly Derry, diz que “já se sabe há algum tempo que os compostos bioativos presentes no extrato de sementes de uva afetam de forma seletiva muitos tipos de células de cancro. Este estudo mostra que muitas das mesmas mutações que permitem as células de cancro colo-retal metastizar e sobreviver às terapias convencionais torna-as especialmente sensíveis ao tratamento com ESU”.

Uma vez que cerca de 60% dos pacientes diagnosticados com cancro colo-retal já terem a doença num estágio avançado, torna-se particularmente importante encontrar estratégias mais eficazes de tratamento da doença nestas fases mais avançadas e mais resistentes aos tratamentos convencionais.

A equipa desenvolveu as suas experiências em linhas de células de cancro representando vários estágios da doença. Embora seja necessário muito mais quimioterapia para destruir uma célula de cancro de estágio IV do que uma de estágio II, estes investigadores observaram que o contrário acontecia com ESU. “É necessário menos de metade da concentração de ESU para inibir o crescimento destas células e destruir 50% das células de estágio IV do que aquela necessária para se atingirem resultados similares em células de estágio II“, diz Derry.

A investigadora continua a sua explicação com base nos resultados do estudo: “uma célula de cancro colo-retal pode ter mais de 11000 mutações genéticas em relação às células saudáveis. As quimioterapias tradicionais só conseguem afetar uma mutação específica e enquanto o cancro progride mais mutações ocorrem. Estas alterações podem resultar em mais resistência à quimioterapia por parte do cancro. Por contraste, os vários compostos bioativos presentes no ESU são capazes de afetar múltiplas mutações. Quantas mais mutações um cancro apresenta, mais eficaz o ESU é a afetá-las”.

Vários mecanismos poderão contribuir para a eficácia dos componentes presentes no ESU no tratamento do cancro colo-retal: stress oxidativo, perda de potencial de membrana mitocondrial, modulação de proteínas pro e anti-apoptose, ente outras.

O ESU tem mostrado efeitos quimiopreventivos e anticancerígenos em vários modelos in vitro e in vivoO ESU é composto por uma mistura complexa de vários polifenóis, especificamente proantocianidinas. Estes fitoquímicos têm mostrado várias propriedades funcionais e quimiopreventivas nomeadamente enquanto antioxidantes. Vários estudos têm mostrado uma diminuição de incidência de cancro da mama em modelo animal assim como em cancro da próstata, além do cancro colo-retal. Além disso, um estudo sugere que quando utilizado em conjunto com a doxorubicina, um fármaco utilizado no tratamento do cancro da mama, aumenta a sua eficácia.

Outro estudo anterior havia também observado as propriedades anticancerígenas do ESU na leucemia. utilizando um extrato de sementes de uva disponível comercialmente, a equipa liderada por Xianglin Shi da Universidade de Kentucky expôs células de leucemia ao ESU em diferentes doses e observou que era ativada a apoptose nestas células sem afetar as saudáveis. Ao fim de 24 horas, 76% das células de cancro tinham morrido.

Desde a Grécia Antiga que as uvas são utilizadas para fins terapêuticos. Mais de dois mil anos depois a ciência moderna continua a confirmar as suas importantes propriedades medicinais. Este fruto é fonte de vários fitoquímicos com propriedades anticancerígenas, nomeadamente o resveratrol. Embora quando consumido na forma de vinho tinto com moderação possa trazer benefícios na forma de uma maior concentração destas substâncias na bebida, o álcool representa um aumento de risco de vários tipos de cancro, em particular o da mama. Desde Dionísio, passando por Baco, as uvas continuam a ser uma fonte de saúde e prazeres.

Referências:

https://www.cancerletters.info/article/S0304-3835(12)00732-X/abstract

https://www.coloradocancerblogs.org/as-colorectal-cancer-gets-more-aggressive-treatment-with-grape-seed-extract-is-even-more-effective/

https://nccam.nih.gov/health/grapeseed/ataglance.htm

https://www.dietandcancerreport.org/cancer_resource_center/downloads/chapters/chapter_07.pdf

https://www.dietandcancerreport.org/cup/current_progress/colorectal_cancer.php

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https://www.cancer.gov/cancertopics/pdq/treatment/colon/HealthProfessional

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2805888/

https://jn.nutrition.org/content/134/12/3445S.long

https://cancerres.aacrjournals.org/content/67/12/5976.long

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https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15039593

https://clincancerres.aacrjournals.org/content/15/1/140.abstract

https://www.sciencedaily.com/releases/2008/12/081231005257.htm