Deficiência de vitamina D poderá aumentar o risco de cancro do pulmão em fumadores

Os resultados de vários estudos apontam para para a probabilidade de que a exposição (responsável) à radiação UVB, através da produção de vitamina D na pele, é inversamente proporcional à taxa de mortalidade de vários cancros.  Embora a deficiência desta vitamina esteja associada a problemas ósseos e fraturas, a sua relação com o risco de vários tipos de cancro é cada vez mais certa. A incidência de deficiência de vitamina D, combinada com a descoberta de risco elevado de vários cancros, sugere que níveis baixos desta vitamina podem contribuir para várias mortes prematuras de cancro do cólon, mama, ovário e próstata, entre outros.

Um novo estudo publicado na revista Clinical Chemistry, vem reforçar este conhecimento mostrando que níveis baixos de vitamina D poderão predispor os fumadores a desenvolver cancro relacionado com o consumo de tabaco. Os autores do estudo mediram os níveis de vitamina D a partir do sangue recolhido de 10000 dinamarqueses da população geral. Os investigadores de seguida acompanharam os participantes do estudo durante 28 anos através do Registo de Cancro Dinamarquês. Dos participantes, 1081 desenvolveram cancros relacionados com o tabagismo. Os autores determinaram que a concentração mediana de vitamina D nestes participantes era de apenas 14,8 ng/mL, contra a mediana de 16,4 ng/mL para todos os participantes no estudo.

Estes resultados mostram pela primeira vez que o risco de cancros relacionados com o tabagismo como um grupo está associado a concentrações inferiores de vitamina D. Os dados também mostram que os químicos presentes no fumo do tabaco podem influenciar o metabolismo e função da vitamina D, enquanto que esta poderá modificar as propriedades cancerígenas desses químicos. Se pesquisas posteriores confirmarem este fenómeno, isso serconsistente com outros estudos que sugerem propriedades anticancerígenas da vitamina D assim como com a correlação entre a deficiência desta vitamina e condições favoráveis ao desenvolvimento do cancro.

Quase em simultâneo, outro estudo desenvolvido na Boston University School of Medicine (BUSM) motrou que aumentar os níveis de vitamina D no sangue poderá ter vários benefícios para a saúde inclusive no cancro. O estudo, publicado na PLOS ONE, revela pela primeira vez que aumentar os níveis de vitamina D em adultos saudáveis tem um impacto significativo em genes envolvidos numa série de vias biológicas associados com o cancro, doenças cardiovasculares, doenças infecciosas e autoimunes. Embora estudos anteriores mostrassem uma relação entre o défice desta vitamina e o risco destas doenças, estes resultados dão um passo à frente e representam uma evidência direta que o aumento nos níveis de vitamina D tem um papel importante na melhoria da imunidade e na diminuição de risco de várias doenças.

O estudo, randomizado e duplo-cego, envolveu 8 homens e mulheres com uma idade média de 27 anos os quais tinham níveis insuficientes de vitamina D no começo do estudo. Três participantes receberam 400 Unidades Internacionais (UI) de vitamina D por dia e cinco receberam 2000 UI por dia durante um período de 2 meses. Foram recolhidas amostras dos glóbulos brancos no início e no fim do estudo. Uma análise da expressão dos genes foi igualmente feita a partir dessas amostras e mais de 22500 genes foram investigados para ver se a sua atividade aumentava ou diminuía com a presença de vitamina D.

Lista das funções biológicas dos 291 genes cuja expressão foi influenciada pela suplementação de vitamina D3.

No final do estudo, o grupo que recebeu 2000 UI atingiu valores de vitamina D na ordem dos 34 ng/mL, o que é considerado suficiente. O grupo que recebu 400 UI atingiu valores insuficientes na ordem dos 25 ng/mL. Os resultados da análise à expressão dos genes indicaram alterações significativas na atividade de 291 genes. Uma análise posterior mostrou que as funções biológicas associadas com esses 291 genes estão relacionadas com 160 vias biológicas relacionadas com o cancro, doenças autoimunes, doenças infecciosas e cardiovasculares.

De acordo com Michael Holick, professor de medicina na BUSM, “este estudo revela as assinaturas moleculares que ajudam a explicar os benefícios para a saúde da vitamina D. Embora um estudo maior seja necessário para confirmar estas observações, os dados demonstram que aumentar os níveis de vitamina D pode ter um efeito dramático na expressão de genes, nas nossas células do sistema imunitário e pode ajudar a explicar o papel o seu papel na redução do risco do cancro e de outras doenças”.

Os mecanismos pelos quais a vitamina D pode interferir com o risco de cancro poderão ser vários: regulação de cerca de 200 genes responsáveis pelo controlo do crescimento e diferenciação celular; diminuição de risco da transformação de células saudáveis em malignas; inibição da proliferação das células de cancro; indução da apoptose; inibição da angiogénese; ação anti-inflamatória; além disso os seus benefícios poderão incluir o aumento da eficácia na reparação do ADN, proteção antioxidante e imunomodelação.

Dito isto, e à luz (solar) do que hoje temos disponível como evidência, parece sensato sugerir que passemos de uma política de “exponha-se o mínimo possível à radiação solar” de forma a reduzir o risco de cancro da pele, para outra de “faça um uso responsável do sol” de forma a provavelmente prevenir uma série de cancros. Os resultados de vários estudos apontam para para a probabilidade de que a exposição (responsável) à radiação UVB, através da produção de vitamina D na pele, é inversamente proporcional à taxa de mortalidade de vários cancros. As políticas anti-sol poderão ter de ser revistas de forma a se obter um benefício adequado na prevenção do cancro sem representar um risco acrescido de cancro da pele.

Sendo a melhor fonte de vitamina D o sol, tudo o que diminua a transmissão de radiação UVB para a superfície da Terra ou que interfira com a penetração dessa radiação na pele afeta a síntese de vitamina D3. A melanina sendo muito eficaz a absorver radiação, quanto mais presente na pele menos eficaz também será a produção da vitamina. Por outro lado, um protetor solar com um fator de proteção 15 absorve 99% da radiação UVB, reduzindo assim em 99% a produção de vitamina D pela pele. Trinta minutos ou menos (consoante o tipo de pele, a latitude e a altura do ano) deverão ser suficientes para assegurar os níveis suficientes de vitamina D de forma a assegurar um fator preventivo. Nesta ligação podem encontrar um guia de exposição solar de forma a se obterem o máximo de benefícios. Em alguns casos pode ser necessário uma suplementação extra de vitamina D3. Para tal, um profissional de saúde adequado deve ser consultado.

Referências:

https://www.clinchem.org/content/early/2013/01/17/clinchem.2012.201939

https://www.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0058725

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16886679

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1470481/?tool=pubmed

https://www.ajcn.org/content/87/4/1080S.full#ref-77

https://circres.ahajournals.org/content/87/3/214.abstract?ijkey=b450f4015ca42afdd887aa5469804a33163ce3f3&keytype2=tf_ipsecsha

https://www.sciencedaily.com/releases/2012/02/120223103920.htm

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22168439

https://www.vitamindcouncil.org/about-vitamin-d/how-to-get-your-vitamin-d/