É um dos mais ansiados produtos por todos nós. Caracteriza-se pelo sabor doce, reconfortante, mas no final das contas o sabor que deixa pode facilmente passar a amargo. O açucar nunca foi consumido em quantidades tão grandes como o é atualmente. Poucos produtos disponíveis nas prateleiras dos supermercados não têm hoje ou açucar adicionado ou um índice glicémico elevado o que se traduz num alimento que quando consumido sobe rapidamente os níveis de glicose no sangue. Todos os alimentos processados, não integrais ou refinados têm um índice glicémico alto, o que significa a grande maioria dos alimentos que consumimos. Consumir este tipo de alimentos traz duas desvantagens: por um lado por se tratarem de hidratos de carbono simples são rapidamente digeridos no organismo e transformados em açucares simples o que leva a uma grande mobilização de insulina e consequentemente da hormona IGF-1; por outro lado ao serem refinados perderem a fonte de nutrientes mais importantes do aliemento, sendo assim desprovidos de importantes substâncias e fitoquímicos com inúmeras propriedades para o organismo. A isto se junta o facto de o açucar se tratar de uma substância altamente aditiva (tal como a cocaína) o que provoca uma dependência e comportamento típico de um toxicodependente. O problema é que esta droga branca ocupa uma posição central das nossas dietas e até dos nossos rituais sociais. Ser criança ou festejar um momento marcante das nossas vidas é sinónimo de consumir açúcar.

Desde os anos 30 que sabemos que o açucar está intimamente relacionado com o metabolismo das células de cancro. Na realidade a glicose é a matéria prima que serve de base para o combustível de todas as células, saudáveis ou não. Mas a forma como as células de cancro obtêm energia a partir dela é diferente. O biólogo Otto Warburg ganhou em 1931 o Prémio Nobel da Medicina por descobrir que o metabolismo dos tumores está inteiramente dependente do consumo de glicose. Enquanto as células saudáveis produzem energia (ATP) a partir da oxidação da glicose, utilizando para isso o oxigénio disponível, as células de cancro fazem-no através da fermentação, excluindo assim a necessidade de oxigénio do processo. Por ser um processo mesno eficaz para a obtenção de energia isso significa que vão precisar de mais quantidade de glicose para produzir a mesma energia. Este mecanismo conhecido por glicólise foi aliás explorado para servir de base para o exame PET (tomografia por emissão de positrões). O que o exame faz é após a introdução de glicose devidamente preparada, a máquina consegue detetar quais as áreas do corpo que consomem mais glicose. Se uma das áreas se destacar a causa mais provável é tratar-se de cancro.

Quando consumimos açucar ou alimentos com um índice glicémico elevado, os níveis de glicose no sangue sobem rapidamente. Essa subida é acompanhada pela descarga imediata de insulina no sangue, hormona responsável pela pela metabolização do açucar nas células. A acompanhar a insulina é segregada uma outra hormona chamada IGF cujo papel é o de estimular o crescimento das células. Ambas as hormonas promovem assim o desenvolvimento das células fazendo-as crescer mais depressa. Tudo o que promova o crescimento celular deve despertar imediatamente um sinal de alerta quando lidamos com cancro, uma doença caracterizada justamente pelo crescimento descontrolado das células. Além disso tanto a insulina como o IGF-1 prmovem os fatores inflamatórios dos quais dependem as células de cancro para se desenvolverem.

Embora se saiba tudo isto ainda não existe um consenso generalizado sobre o papel do consumo de açucar no desenvolvimento do cancro. Por uma questão de bom-senso somos levados a considerar benéfico uma redução do consumo de açucares simples e alimentos com índice glicémico elevado. De facto com isso conseguimos não só muito provavelmente reduzir o risco de cancro e contribuir para o controlo da doença, como também trazer benefícios para muitas outras doenças associadas ao seu consumo, quer se trate de doenças cardiovasculares ou diabetes. Os estudos que existem que avaliam a relação entre índice glicémico elevado e alguns cancros não são ainda inteiramente conclusivos mas existem alguns resultados recentes que talvez tragam mais um contributo para o assunto:

Como medida de precaução podemos (devemos?) todos optar por uma alimentação variada e abundante em alimentos nutricionalmente ricos e pouco processados/refinados. Dessa forma reduzimos muito provavelmente o risco de alguns cancros ou ajudamos a controlar a doença caso já se tenha manifestado. O único efeito colateral dessa medida será benefícios em muitas outras condições que dependem de uma boa nutrição para não se manifestarem.

Alguns exemplos de alimentos classificados pelo respetivo índice glicémico:

Peça de jornalismo exibida no programa “60 Minutes”:

Referências:

https://www.health.harvard.edu/blog/use-glycemic-index-to-help-control-blood-sugar-201208135154

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22760570

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22497978

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22831983

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21221764

https://www.glycemicindex.com/

https://www.nobelprize.org/nobel_prizes/medicine/laureates/1931/warburg-bio.html

https://www.onlinenursingprograms.com/nursing-your-sweet-tooth/

https://www.youtube.com/watch?v=t9MH_tks_wE